sábado, fevereiro 24, 2007

Carlos Resende Júnior

Homenagem a uma pessoa honesta

Hoje vou pedir licença aos leitores desse Blog para homenagear especialmente uma pessoa simples e do povo que conheci dia desses. E quero aproveitar esse espaço onde em Inconfidentes de juntam os melhores exemplos vindos de Ouro Fino.

Claro, também desejar a continuação dessa boa influência vinda daquela cidade - antiga sede de onde tantos vieram - pois desde a nascença de Inconfidentes, a antiga "Colonha" sempre foi e continuará ligada a Ouro Fino. Pois cumpre destacar esse rapaz, funcionário de um conhecido posto de gasolina naquela cidade onde trabalha - junto com outros funcionários - certamente, também, anonimamente exemplares e honestos.
Pois trata-se do frentista Carlos Resende Júnior, funcionário do Auto Posto Posto Rodrigues - situado na descida da Rua Prefeito José Serra, mostrado na foto abaixo.


Mas o fato é o seguinte: pouco antes do natal, ainda no ano passado, ali abasteci. Paguei com cartão de crédito e, distraído, fui embora. Semana depois, ainda nem tinha dado pela falta falta desse cartão. Sequer dele lembrara pela simples falta de uso nesse tempo. Pois assim, sem nada imaginar, para minha grande surpresa recebo um telefonema de Ouro Fino. Era o Carlos. Avisava: eu alí havia esquecido o tal cartão. Pois o Carlos, ao invés de fazer como outros espertalhões a proliferar por essas bandas por outros meios mais trabalhosos (sem tais "achados" caídos do céu), pôs-se a investigar quem era o dono para devolve-lo. E saiu a perguntar até encontrar meu nome na lista telefônica de Inconfidentes.

Claro, ao invés de devolver, durante esse tempo poderia (fosse menos honesto), fazer uma pequena "festa" se quisesse (apesar do limite), pois de minha parte nem sequer havida dado pela falta para pedir bloqueio.
Pois tenho certeza: pode se orgulhar o patrão desse funcionário exemplar, hoje verdadeiro "cartão de visitas" moral e pessoal do Auto Posto Rodrigues em Ouro Fino - visto na foto. Parabéns ao Carlos. Parabéns ao patrão do Carlos e seus colegas. Saúde, paz e progresso a todos!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Enéas Soares


Outra delicada lembrança não poderia faltar nesse Blog. Enéas Soares, idos de 1960. Compunha ele próprio a paisagem de Inconfidentes - sempre a subir no trajeto até a entrada da Escola à noitinha - após jantar na casa de sua mãe. Alguns dos mais antigos moradores, decerto acertavam seus relógios pela subida do Seu Enéas de hábitos e rotinas tão marcadas no tempo. Enfermeiro da antiga EAVM, era querido de todos, sempre amável e delicado.

Evidentemente não haveria pessoa mais dedicada em amor à humanidade e pureza de espírito juntado em cuidados aos "meninos" - assim ele chamava os alunos da Escola. Pois era ao Enéas a quem recorríamos ao primeiro espirro de gripe... ou pé torcido depois das peladas no páteo ou campo de futebol - embora quase sempre tudo terminasse tratado com uma "cibalena", o então santo remédio para tudo.

Mas a gente até abusava depois! Pois muitas vezes, fingiamos estar gripado ou coisa que ou valha apenas para ficar "
internado" na enfermaria: para assim.... tirar uma folga nos trabalhos do campo. Mas aí Seu Enéias depois de chamar o Dr. Antônio castigava: tacava uma injeção onde ao final ficávamos a sentir "gosto de eucalipto" na boca...

Naquela época ainda não havia televisão. Tudo era transmitido pelas ondas curtas do rádio entre chiados e assobios sem fim. Localmente, era o radinho do Seu Enéas quem mais irradiava para o mundo circundante as "
paradas de sucesso" musicais da moda - coisa que sempre ficávamos a ouvir ao passar por perto da janela do seu quarto (na direção do portão à entrada de enfermaria - foto). Assim, inesquecíveis ficaram algumas músicas de 1959 como "estúpido cupido", cantada por Celly Campelo logo ao início de sua carreira.

Aliás, ao quanto lembro, música várias vezes repetida durante o dia:


"Oh! oh ! Cupido, vê se deixa em paz,
Meu coração que já não pode amar
Eu amei há muito tempo atrás,
Já cansei de tanto soluçar
Hei, hei, é o fim
Oh, oh cupido vá longe de mim"...



Muito tempo depois, ao voltar a residir em Inconfidentes e atacado de insônia lá pelas 3 horas da madrugada resolvi da uma voltinha enquanto por outro lado a neblina recobria luzes nos postes. Fui sentar num banco da praça. Pois alí também voltei a encontrar o Enéas - mais um vulto assentado na solidão da noite. Também insone, contemplava o mundo cercado pelo silêncio ao redor. Já estava aposentado e morava sozinho: "eu... e Deus", assim respondeu com a mesma e afetuosa tranquilidade. Era o último habitante da casa da Dna Ita. Convidou-me a entrar. Mostrou o interior onde tudo parecia intocado entre frascos, retratos, toalhas, bibelôs e lantejoulas - desde o quarto da Terezinha: pois seus antigos moradores ainda pareciam presentes pelos móveis e arrumações. Aliás, na sala ainda chamava a atenção a antiga vitrola - móvel solenemente recoberto por um vaso florido sobre um pequeno manto bordado; tudo como se estivesse pronta para de novo reproduzir os mesmos "long-plays" em vinil. Ou os velhos "78" - onde decerto Lucho Gatica ainda cantaria o indefectível "Perfume de Gardênia" :

"Perfume de gardenia,
Tiene tu boca, bellísimos destellos de luz en tu mirar;
Tu risa es una rima, de alegres notas,
Se mueven tus cabellos cual ondas en el mar.

Tu cuerpo es una copia de venus y citeres,
Que envidian las mujeres cuando te ven pasar;
Y llevas en el alma la virginal pureza,
Por eso es tu belleza de un místico candor.

Perfume de gardenia,
Tiene tu boca;
Perfume de gardenia,
Perfume del amor".
-

(música composta por Raphael Hernandez)

Pois em sua homenagem reproduzo a letra dessa música junto com a última lembrança do Enéas - continuada enquanto voltava para casa, cercado desta vez pela neblina dos tempos.