quarta-feira, janeiro 25, 2012

Hermínia Munhoz Mendonça

 Aniversários... jamais esquecidos!



Muitos anos depois Hermínia, homenageada em 1960
numa formatura da Escola Agricola,
 enviou ao "eterno admirador" essa pequena foto em 2010.



segunda-feira, julho 23, 2007

Anastácia Teodoro

Essa é a Anastácia. Anastácia Teodoro.

Para mim a Anastácia é uma das pessoas mais queridas da família. Todos irmãos assim a consideram. E a anastácia ainda ajudou a cuidar dos mais novos. Era da família. Era de casa.

Sempre quando voltávamos a Inconfidentes, procurávamos saber da Anastácia. E hoje, ao retornar, vejo a Anastácia vitoriosa pela vida, uma orgulhosa criatura. Brasileira. Mineira, alma liberta. E por suas próprias crenças e valores, governa a própria vida. E segue altaneira.

Nunca vi a Anastácia submissa.
Quando a Anastácia está brava, eu sei, ela faz bico para mim.
Mas quando ela não faz, está tudo certo. E tudo está em paz.

Na prática, era a "irmã do meio" da família. E ia buscar o Kika e Duba na saida do colégio daquela época (GE - Felipe dos Santos) . Garantia a "segurança" dos protegidos contra uns meninos mais fortes dispotos a resolver "diferenças" na saída da escola...

Pois onde a Anastácia estivesse, em volta impunha logo o respeito. E em Inconfidentes a Anastácia sempre foi rainha. Sempre pisou o chão como pisam as rainhas. E por tudo enfrentou a vida com coragem e alegria.
Pois uma das mais queridas imagens ficou, quando certa vez voltara a Inconfidentes em rápida pássagem: Pois por minha surpresa e alegria, vi a Rainha do Carnaval. E o carro alegórico parava frente à casa, esquina onde antes morávamos. Pois era a Anastácia em cima. Talvez ela não se lembre. Mas ficou e guardei: o aceno da mão. A linguagem das mãos. Mão, olhar e carinho no ar.

Aliás, é engraçado agora reparei ao lembrar disso. Sempre onde estivemos, falamos a linguagem das mãos. E sempre falaram carinho e respeito marcado pelo ar. Dança. Coreografia da vida. Enfim tudo comunicado: cada simples gesto. E assim cada qual pisou o mundo, cada qual com sua linguagem a somar caminhos. E hoje andados mundo afora - cada trilha de Inconfidentes, cada qual. Caminho guardado. Pisar contionuado, gestos e silêncios andados.

Pois a Anastácia é irmã do Toninho. Para mim também outro irmão da época.

Tinhamos a mesma idade. Toninho, outro membro da família sempre por perto lembrado e querido de Inconfidentes inteiro. E por todos respeitado.
E ele era o craque da bola. E eu o perna de pau - apesar de tentar. Toninho era o requisitado titular de todos os times daqui da região. E eu modesto "segundo quadro" no time da Escola e vez por outra também acertava - meio ajudado pelo acaso.

Mas sem ser por acaso, tinha de tirar o chapéu para o Toninho quem aliás mostro abaixo, aí na foto - tempos atras.
Já é o Toninho - Avô. E nos braços a neta Fernand(inha). E o Marquinho, sobrinho da Anastácia e filho do Toninho, também já foi eleito uma vez vereador aqui em Inconfidentes.
Pois falar da Anastácia é falar da família. Dessa família, dos mais antigos de Inconfidentes.
Aliás, em quem a gente confia por nunca precisar trair a verdade. E pela vida simples e honrada onde nada se precisa mentir ou esconder, resta a alegria de ver a Anastácia passar frente à casa. Ou pelas ruas de Inconfidentes a cruzar caminhos. Cada qual, tenho certeza, leva guardado o carinho pelo passo seguinte. Coisas de velha amizade. Guardados de memória estendidos pelo tempo.



sábado, fevereiro 24, 2007

Carlos Resende Júnior

Homenagem a uma pessoa honesta

Hoje vou pedir licença aos leitores desse Blog para homenagear especialmente uma pessoa simples e do povo que conheci dia desses. E quero aproveitar esse espaço onde em Inconfidentes de juntam os melhores exemplos vindos de Ouro Fino.

Claro, também desejar a continuação dessa boa influência vinda daquela cidade - antiga sede de onde tantos vieram - pois desde a nascença de Inconfidentes, a antiga "Colonha" sempre foi e continuará ligada a Ouro Fino. Pois cumpre destacar esse rapaz, funcionário de um conhecido posto de gasolina naquela cidade onde trabalha - junto com outros funcionários - certamente, também, anonimamente exemplares e honestos.
Pois trata-se do frentista Carlos Resende Júnior, funcionário do Auto Posto Posto Rodrigues - situado na descida da Rua Prefeito José Serra, mostrado na foto abaixo.


Mas o fato é o seguinte: pouco antes do natal, ainda no ano passado, ali abasteci. Paguei com cartão de crédito e, distraído, fui embora. Semana depois, ainda nem tinha dado pela falta falta desse cartão. Sequer dele lembrara pela simples falta de uso nesse tempo. Pois assim, sem nada imaginar, para minha grande surpresa recebo um telefonema de Ouro Fino. Era o Carlos. Avisava: eu alí havia esquecido o tal cartão. Pois o Carlos, ao invés de fazer como outros espertalhões a proliferar por essas bandas por outros meios mais trabalhosos (sem tais "achados" caídos do céu), pôs-se a investigar quem era o dono para devolve-lo. E saiu a perguntar até encontrar meu nome na lista telefônica de Inconfidentes.

Claro, ao invés de devolver, durante esse tempo poderia (fosse menos honesto), fazer uma pequena "festa" se quisesse (apesar do limite), pois de minha parte nem sequer havida dado pela falta para pedir bloqueio.
Pois tenho certeza: pode se orgulhar o patrão desse funcionário exemplar, hoje verdadeiro "cartão de visitas" moral e pessoal do Auto Posto Rodrigues em Ouro Fino - visto na foto. Parabéns ao Carlos. Parabéns ao patrão do Carlos e seus colegas. Saúde, paz e progresso a todos!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Enéas Soares


Outra delicada lembrança não poderia faltar nesse Blog. Enéas Soares, idos de 1960. Compunha ele próprio a paisagem de Inconfidentes - sempre a subir no trajeto até a entrada da Escola à noitinha - após jantar na casa de sua mãe. Alguns dos mais antigos moradores, decerto acertavam seus relógios pela subida do Seu Enéas de hábitos e rotinas tão marcadas no tempo. Enfermeiro da antiga EAVM, era querido de todos, sempre amável e delicado.

Evidentemente não haveria pessoa mais dedicada em amor à humanidade e pureza de espírito juntado em cuidados aos "meninos" - assim ele chamava os alunos da Escola. Pois era ao Enéas a quem recorríamos ao primeiro espirro de gripe... ou pé torcido depois das peladas no páteo ou campo de futebol - embora quase sempre tudo terminasse tratado com uma "cibalena", o então santo remédio para tudo.

Mas a gente até abusava depois! Pois muitas vezes, fingiamos estar gripado ou coisa que ou valha apenas para ficar "
internado" na enfermaria: para assim.... tirar uma folga nos trabalhos do campo. Mas aí Seu Enéias depois de chamar o Dr. Antônio castigava: tacava uma injeção onde ao final ficávamos a sentir "gosto de eucalipto" na boca...

Naquela época ainda não havia televisão. Tudo era transmitido pelas ondas curtas do rádio entre chiados e assobios sem fim. Localmente, era o radinho do Seu Enéas quem mais irradiava para o mundo circundante as "
paradas de sucesso" musicais da moda - coisa que sempre ficávamos a ouvir ao passar por perto da janela do seu quarto (na direção do portão à entrada de enfermaria - foto). Assim, inesquecíveis ficaram algumas músicas de 1959 como "estúpido cupido", cantada por Celly Campelo logo ao início de sua carreira.

Aliás, ao quanto lembro, música várias vezes repetida durante o dia:


"Oh! oh ! Cupido, vê se deixa em paz,
Meu coração que já não pode amar
Eu amei há muito tempo atrás,
Já cansei de tanto soluçar
Hei, hei, é o fim
Oh, oh cupido vá longe de mim"...



Muito tempo depois, ao voltar a residir em Inconfidentes e atacado de insônia lá pelas 3 horas da madrugada resolvi da uma voltinha enquanto por outro lado a neblina recobria luzes nos postes. Fui sentar num banco da praça. Pois alí também voltei a encontrar o Enéas - mais um vulto assentado na solidão da noite. Também insone, contemplava o mundo cercado pelo silêncio ao redor. Já estava aposentado e morava sozinho: "eu... e Deus", assim respondeu com a mesma e afetuosa tranquilidade. Era o último habitante da casa da Dna Ita. Convidou-me a entrar. Mostrou o interior onde tudo parecia intocado entre frascos, retratos, toalhas, bibelôs e lantejoulas - desde o quarto da Terezinha: pois seus antigos moradores ainda pareciam presentes pelos móveis e arrumações. Aliás, na sala ainda chamava a atenção a antiga vitrola - móvel solenemente recoberto por um vaso florido sobre um pequeno manto bordado; tudo como se estivesse pronta para de novo reproduzir os mesmos "long-plays" em vinil. Ou os velhos "78" - onde decerto Lucho Gatica ainda cantaria o indefectível "Perfume de Gardênia" :

"Perfume de gardenia,
Tiene tu boca, bellísimos destellos de luz en tu mirar;
Tu risa es una rima, de alegres notas,
Se mueven tus cabellos cual ondas en el mar.

Tu cuerpo es una copia de venus y citeres,
Que envidian las mujeres cuando te ven pasar;
Y llevas en el alma la virginal pureza,
Por eso es tu belleza de un místico candor.

Perfume de gardenia,
Tiene tu boca;
Perfume de gardenia,
Perfume del amor".
-

(música composta por Raphael Hernandez)

Pois em sua homenagem reproduzo a letra dessa música junto com a última lembrança do Enéas - continuada enquanto voltava para casa, cercado desta vez pela neblina dos tempos.








sexta-feira, janeiro 26, 2007

Delcy Doná


Meu amigo Delcy Doná, quem diria!

Foram precisos 40 e tantos anos para voltar e reencontrar! E a nos falar como antigamente - tamanhos desvios e outros caminhos cada qual tomou nos destinos pela vida.

Pois o Delcy Doná foi meu “arqui-rival” na arte de dirigir o F-600 aquele imenso caminhão (Ford - 1958) amarelo. O qual tinha freio a "bafo". Era pisar no freio e ouvir o "chiadinho" do ar pelo “bafo”. E mesmo se precisar, a gente dava duas, três bombadas só para ouvir... E depois também gostávamos de escutar a carroceria ranger, gemer e estalar quando carregada. No mais das vezes, juntado a esse prazer, carregar a ruidosa "zalunera" e torcidas por aí a jogar futebol por esse mundão.

No mais, vamos reconhecer. Aquele velho caminhão (ultramoderno na época) marcou o início dos anos em Inconfidentes muitas vezes como a única “condução” disponível – pois as vezes a jardineira do Irineu volta e meia “estercava”. Pois sempre a vencer atoleiros no tempo das águas, buraqueiras, costelas de vacas e, anunciar chegada pelo levante de nuvens de poeira no tempo das secas, rodou os caminhos do bom Deus a deixar para trás chuvas e trovões por onde passava veloz, soberano... e no retrovisor ficavam os restos dos carros: perdidos na poeira ou atolados na lama.

O Delcy era bom motorista. E por isso, nesse jogo metalinguístico da eterna juventude transviada ou não, empinava-se nariz - tanto em Copacabana e Ipanema como no Meyer ou em Inconfidentes – para não esquecer o Sapopemba. Mas ele me respeitava como mecânico, isso eu sentia. Aí, eu empinava o nariz. E aí ele sentia. Por vezes ele apanhava à-toa para fazer motor de carro velho “pegar(manivela era equipamento “normal”). Principalmente, sei, o Delcy detestava o Allis Chalmers... um velho trator de roda de ferro e bitola estreita na frente (aliás perigoso por esse motivo: pois ao encontrar o mesmo obstáculo, as duas rodas muito juntas tomavam a direção e davam um golpe no volante; se o polegar não estivesse fora do "guidon"...). Mas nesse dia, o Delcy já estava há um tempão dando manivela... Mas aí... cheguei perto... foi só "arrumar" o condensador. Pois taí: eu juro que não foi maldade minha, pois eu não tinha ainda terminado o distribuidor - tinha deixado para o dia seguinte... E o Delcy cercado pela platéia bem humorada pelo aparente “vexame técnico”, não poderia adivinhar pois aparentemente por fora tudo estava “montado” - junto ao magneto. Mas... faltava colocar o condensador... pelo lado de fora. Pois naquele dia ninguém saiu pra arar o milharal do bom Deus! E agastados, chovemos raios e trovões entre mensagens ocultas pelos afagos da mente.

Mas eu acho que isso ficou atravessado na garganta do Delcy por um bom tempo, coisa que depois se manifestava na metalinguagem da disputa pela "posse" do portentoso caminhão F-600 amarelo alaranjado. Pois um dia com esse instrumento ele se vingou. Literalmente, comi o pó lembrado até hoje - para dizer que ficou bem “vingado”. Pois de pó e poeira foi o quanto para mim bastou para o resto da vida.
Pois um dia, meu pai ia viajar para o Rio de Janeiro. E ia na velha perua da escola, uma estranha arquitetura de madeira com carroceria construída em cima de um chassis de caminhonete (Chevrolet – 1948) a mais lembrar diligências do “velho oeste”.. E isso, diga-se de passagem, até antes dessa caminhonete ser reformada - depois de tanto andar remendada com esparadrapo e fita isolante nas mangueiras do radiador a ferver (nunca paravam de pingar e, nos lugares onde a hélice de vez em quando achava de raspar...). Mas, ainda, antes de chegar a esse estado intentava essa viagem. Porém, pouco antes de chegar em Pouso Alegre, a perua "estercou" de vez. Foi a “viagem do sapo”, como se dizia.

Dessa vez, os roncos na caixa de câmbio foram aumentado... até que roncou de vez e fim. Claro, em carro velho a gente sempre andava prevenido. Tinha ferramenta e remédio pra tudo... Mas pra câmbio estourado não deu. Ali plantou. Logo voltados de carona, retornados à base em Inconfidentes, fomos buscar a perua então abandonada, largada à margem, embora cuidadosamente com vidros fechados para "dar moral" em carro chapa branca. Pois viemos busca-la com o caminhão F-600. Dirigido, claro, pelo colega Delcy.
Aí, voltada para Inconfidentes, corda amarrada no pára-choque, tive de engolir o poeirão da estrada de terra que o bom Deus caprichava - quando queria enfeitar os céus com nuvens de poeira. Pó fino, nuvem contínua... E para desgraça total, nem o limpador de pára-brisa da perua funcionava. Pois naquela época os limpadores de pára-brisa ao invés de serem elétricos (olha só que luxo de dar inveja! isso havia no F-600!), funcionavam com o "vácuo" do carburador a aspirar uma pequena "bomba" em movimentos alternados.... (detalhe: só funcionva se o motor estivesse ligado. O maior poder de aspiração eram nas desacelerações pelas descidas! Nas subidas, com o motor forçado, até paravam...). Logo, para mais perfeita vingança do Delcy, o pára-brisa da perua a quem me tocou "dirigir" (rebocada só com a corda e sem nenhum "cambão"), era uma cascata de poeira e escorrer. Era a paisagem amarela do mundo circundante que restava enxergar, fora o restante da parte interna do veículo com vidros fechados para pelo menos manter a poeira interna em menor grau de circulação alada a recobrir sobrancelhas.

Embora naquela época nem eu e, decerto, nem o Delcy tivéssemos muita consciência da metalinguagem da eterna juventude então empregada, ao chegar... tudo para mim se aclarou depois de passados esses 45 anos! E as poeiras foram retiradas para fora do entorno do passado. Pois naquele momento, devidamente resgatada a perua, restava o sucesso a comemorar depois dessa façanha semi heróica entre vinganças históricas e “guerras de poder” juvenil oculto: Pois aí entendi: troquei, sim, foi um condensador faltante num velho Allis Clalmers, por toneladas renovadas de poeira proporcionadas por um modernoso F-600 competentemente aplicadas pelo Delcy. Como se para “desempinar” nariz indevidamente empinado, coubesse juntar no poeiral do trajeto escolhido as maiores jazidas desse precioso mineral solto por onde mais camadas de pó houvesse. E eu, humilhado, restava seguir o rumo sua ditadura ouvida do cano de descarga a marcar a impiedade do castigo, misturada aos barulhos aleatórios das latarias identificados nessa pilotagem (vôo cego) de quase uma hora. Tudo, abastecido de poeira espessa, bem servida - onde método para saber se iria ou não entrar em traseira de caminhão, seria "manter" a corda esticada – para ter certeza de que tudo estaria “bem”. Pois foi verdadeira guerra de poder marcada pela potência aplicada pelos pés de cada um em cada pedal: freio... o meu. Acelerador... o Delcy. Verdadeira disputa poder (mecânica) aplicada entre vivências na oficina mecânica da Escola Agrícola onde reinava o todo poderoso Chicão - chefe da oficina - sempre a dizer que "um gambá cheira o outro de "longe" e, com ele, tudo teria de ser em cima do "isquema", claro, naqueles idos tecnológicos de 1960 onde se lixava ponta de biela para apertar "motor rajando".
* * * *

Tenho certeza: o Delcy , na potência folgada e disparatosa do F-600 e sem ver nada no retrovisor senão a própria nuvem de poeira atrás da qual sumíamos, esquecia que rebocava uma velha "patinete" a quase andar empurrada, desconjuntada nas juntas e a bater portas e pára-lamas a cada solavanco (cujo freio tinha de dar duas ou tres bombadas para começar a pegar, cada vez que largasse). Ao fim de tudo, o Delcy, não sei se apiedado pela falta do "revesamento" que eu em vão esperava acontecer em Borda da Mata, ao descer da boléia do caminhão depois de faze-lo "esguichar" três vezes o ruído do seu aparatoso freio à "bafo", bater a porta com olhar e sorriso irônico - comentou: "hehehe... senti que voce freiava"... E eu, a contabilizar o acréscimo de Borda da Mata também a escorrer em torrentes de poeira respondi: "pô... e você acelerava, meu!"


* * * * *

E naquele tempo, Inconfidentes não tinha calçamento. Só para ter uma idéia, a depender da época, até cachorro ao atravessar a rua levantava poeira. Quanto mais o F-600 - mesmo quando queria fazer o favor de passar devagar. Tempos depois foi o Delcy quem me levou à Ouro Fino no próprio F-600 para embarcar para Campinas onde permaneci a percorrer outros caminhos há 45 anos atrás. Mas aí, dei o troco: ao subir no requestado caminhão dos tempos idos, antes de soltar foguete pela vitória final, tirei o sapato... bati o pó. E o deixei, devolvido pro Delcy: era o restinho do que ainda havia sobrado dessa “tertúlia” poeirenta!

Hoje Inconfidentes tem calçamento. Está urbanizado, enfeitado, árvores e canteiro.

Mas são os mesmos caminhos por onde já trilhamos. E para mim é um prazer cruzar e rever esse velho amigo, hoje funcionário da prefeitura, aposentado, sempre visto entre o Bar do Maurão e o Posto Central. Ou seja, pelas adjacências da "oficina mecânica" que um dia existiu como espírito – ao qual junto o humorado “isquema” do exigente Chicão para tudo ficar em boa ordem. Mas ainda existe, como se vê, continua a existir por personagens circundantes. e circunvagantes como partes do “pedaço”. Vida longa Delcy!

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Humberto Guidi




Humberto Guidi (1900-1969). Não poderia faltar o seu Humberto, talvez dos mais antigos e sinceros amigos do meu Pai. Lembro, pois dele falava quando era menino. Aliás, lembro sempre dele sempre falar do Humberto e do Georgino (Paiva) como pessoas muito prezadas - isso por volta de 1945. Dizia haverem-lhe trazido um belo cavalo manga-larga, coisa que não cansava de lembrar associada a esses dois velhos amigos.


Enfim, conheci o Humberto depois, em pessoa (1958), quando aqui voltei e virei aluno na Escola Agrícola, onde ele era o almoxarife. Guardava e escriturava o patrimônio da EAFI como "carga" (significado que todos entendiam). Pois todos funcionários tinham "cargas" sob responsabilidade pessoal por patrimônio público especificado a zelar pela guarda, uso e manutenção. Sem dúvida, era coisa das mais bonitas e saudáveis na administração pública essa delegação de atribuições ao funcionário sob firmeza de responsabilidade, fosse de qual fosse a hierarquia - pelo governo da época.


Pois em relação também extensiva às próprias terras da EAFI, era o Humberto o virtual fazendeiro quem respondia pelo patrimônio público para o qual fora nomeado para zela e cuidar como se fosse seu - sob contas a prestar. Pois ninguém poderia mover palha ou qualquer coisa em qualquer lugar sem primeiro o Humberto colocar seu “chamegão” e licenciar uso. Claro, não adiantaria diretor nenhum dar "ordem". Pois para bom uso de bem material, ele respondia direto ao governo. Como respondiam direto ao governo qualquer funcionário sob "cargas". Tinham consciência da força estatutária para plenamente exercer atribuições.

Portanto, por mais autoritário que fosse qualquer diretor, não haveria subserviência. E o Humberto era a prova viva disso. E dou testemunho: a "linha dura" na EAFI (antiga EAVM), era mesmo com o Humberto Guidi. Só atendia se estivesse de acordo. E palavra do Humberto era final. Se tinha material, fazia. Não tinha ou nâo tem verba? Espera. Pronto. Tava resolvido. Resolver? Problema do Governo, porque dalí (Humberto) não passava.

Pois o seu Humberto Guidi era linha dura até com ele mesmo. Não freqüentava boteco.

Se não estava na escola, estava em casa de pijama.

Para azar nosso, meu e dos meus irmãos, ele morava vizinho em casa pela rua ao lado. Porém de fundo para o quintal - local onde depois foi construída a casa onde hoje mora a Dona Clara casada há mais de 70 anos com seu Pedro (Pereira) - também saudoso funcionário da EAVM. Certamente o azar nosso hoje seria compensado com a docura da Dona Clara se antigamente ela ali estivesse intercalada. Pois sem isso e, pelo quintal vazio, a braveza do Humberto irradiava furores pelos ares a vazar acima dos muros. Os quais eram diretamente captados por meu pai em frequência modulada, ondas curtas e médias. Talvez isso explique em casa coisas do tipo "quem bate pode não saber porque... mas... quem apanha o sabe"! Taí agora entendido: só podia ser "irradiação" do seu Humberto chegada através do muro direto, por "osmose" transversa! Por isso, quando a gente andava e molecava por aí em Inconfidentes, tudo tinha de andar na linha com o Humberto pois, tinha certeza, levaria cascudo de modo indireto.

Mas fora a molecagem que ele sempre soube espantar, o Humberto tinha mesmo razão em ser uma fera. Também pudera: com aquele monte de filhas (todas bonitas), dessas que a gente nunca se cansava de ver como todo molecote atrevido gostaria de assistir desfile de misses! Pois um dia a Edméia foi-me apresentada pela Dagmar (então namorada do meu irmão Gabriel); confesso: fiquei deslumbrado pela menina graciosa, a merecer o título dado pela irmã - e pelo deslumbre da veste branca encantada: ..."Olha aqui a Mis Brasil". Pois nunca mais vi a Edméia desde 1962. Mas fica aqui minha homenagem pela imagem sempre carinhosa que ficou). Lógico, o Humberto tinha mesmo de ser uma fera, para confirmar pelo universalismo as teses do Nelson Rodrigues: tanto no Meyer como em Jacarepagua ou Inconfidentes.

Mas além disso ainda haviam as outras irmãs que não ficavam atrás. E fazer serenata por ali a menos de 50 metros... era alto risco. Mas hoje, hoje quando encontro pelas ruas as antigas meninas, não há como deixar de ser: surgem como "cúmplices"existenciais de uma época vivida em comum, enquanto o tempo parecia infinito, a escorrer de vagar. E a cada encontro casual na cidade percebo o olhar antigo atrás de quem esconde o próprio Humberto Guidi num canto de sorriso. E tudo volta à velha Inconfidentes momentaneamente trazida ao contôrno - onde só falta voltar a poeira às ruas. Pois naquela época a gente levava cascudo sem saber porque. Se o Breno levava não sei. Mas sei sobre a gente lá em casa, depois de andar feito "plaboy" por aí... só porque eramos vizinhos, filhos de pai também nada manso a tudo captar - feito ondas de rádio amador!

Mas, pedagogias corretivas à parte, com o seu Humberto era assim. Tudo tinha que estar em ordem. Senão, era como ele mesmo dizia: o pau comia. Mas... havia atrás de tudo isso, também, outro Humberto. Era o Humberto, velho amigo do meu pai visto a dividir prosa alegre sobre manga-largas e assuntos de outras épocas - além de carinhoso pai quando falava de suas filhas e traia o ”xodó” pela caçula... tudo para depois realçar valor e fibra do Breno, meu colega, mesma turma na EAVM (1962).

Sinceramente... Se hoje o Humberto desse uma voltinha pelas terras da EAFI, como o zeloso "fazendeiro" a quem era afeto o patrimônio da Escola por delegação do governo (sua “carga" funcional), sinceramente acredito: torceria o pescoço de muita chefia atrevida que hoje derruba bosque de árvores do próprio patrimônio apenas para construir e mostrar estrepitoso barracão emprenhado de vaidosa futilidade à margem da utilidade. Jamais permitiria isso, tenho certeza. Iria conferir. Daria "parte" direta ao governo.

Pois Humberto Guidi é parte do romance universal, sem dúvida! Aliás, como são partes do romance universal o antigo prédio da Escola Agrícola - no livro do Raul Pompéia chamado "O Ateneu". É ler e conferir. Como também são partes do romance universal os quatro alto-falantes encimados na torre da igreja - virados para os quatro cantos da cidade, como Giovani Guareschi imaginaria aqui o "pequeno mundo" do seu Don Camilo às voltas com Peppone. E como também o cinema do seu Marcelo - praticamente foi contado pelo Giuseppe Tornatore no filme "Cine Paradiso". É ver e conferir. Pois toda donzela tem um pai que é uma fera.

domingo, dezembro 31, 2006

Gabriel Vilas Boas



Complexo familiar
:
foto e formatura do Bié
(EAVM, 22/12/1958)


O "complexo de família", este seria o tema mais apropriado para as imagens dessa foto, formatura do Prof. Gabriel Vilas Boas na antiga EAVM ao concluir o curso de Mestria Agrícola. Como aluno, contemporâneo, nessa época o Bié era dois anos mais adiantado na Escola do que eu. Tal fato me fez conviver com o Gabriel de um modo singular: primeiro, ele também como aluno ao qual por vezes tinha de obeceder como "lider" eleito. E depois, mais outros dois (anos) já ex-aluno portanto "formado" e, por esse motivo e melhor proveito, levado a trabalhar como funcionário administrativo na secretaria por meu pai, de quem virou o mais fiel escudeiro - e depois sobrevivente aprendiz de feiticeiro, sem mais nada dever a ninguém senão à própria filosofia. Principalmente depois da temeridade, já como funcionário exemplar, de alojar-se em pequeno quarto (espaço reservado à parte dos dormitórios dos alunos: tudo hoje transformado em 5 salas de aulas e outras dependencias nesse então "moderno" pavilhão de janelas amplas, envidraçadas - local reduzido, onde até pouco tempo atrás ficava a biblioteca da EAFI). Pois compartilhava tal aposento com o "filósofo" (esqueço o nome: professor tipo louco-furioso, conhecido pela alcunha de "filósofo" - dizia guardar punhais e revólveres na mala, os quais lá ficavam a "pular" de ódio - assim interrompia aula para esbravejar com algum aluno - enquanto a casa tremia). Pois ficamos todos sem conhecer quais suas artimanhas para assim sobreviver e, nem esse terno branco da formatura precisar lavar de novo para tirar manchas de sangue...

E daí vem outro complexo meu de ordem familiar. Com isso resumido, outro dia demos boas risadas quando recentemente contei essas histórias ao próprio Bié: pois meu pai mesmo sabendo "se" e quando eu ou meus irmãos mentiam ou diziam a verdade, sempre punha "mais fé" na palavra para mim sempre conflituosamente vista como "mais absoluta": a do Bié. Assim, comecei a reconhecer no Bié os meus "absolutos e relativos" circundantes em termos de fé pública, moral estabelecida e razão final - sempre medidos pela palavra abaixo da qual era para ser conferida e acreditada. E olhe, naquele tempo era preciso "ter moral", como se dizia... E no meio da "zalunada" o que mais se falava? Era sobre "quanta" moral o Bié tinha. Lógico, as outras "morais" seriam sempre contrapostas a esse "padrão oficializado". Ou seja, como referência para serem comparadas qualitativamente ou também medidas quantitativamente: se com "mais" moral ou "menos" moral... Mas no fim, depois de tantas tertúlias, todos se reuniam contristados para rezas coletivas, bençãos e orações finais - como era costume. E os pecados ficavam perdoados, ou aliviados. No entanto, enquanto o Bié colhia louros sem maiores complexos, lá em casa, menos afagados, a cinta "cantava" os mais virtuosos corretivos pedagógicos.

E aí, como é que faz? Pois ficamos crescidos em meio às plantões de maior juízo pelo bom Deus jamais esquecidas. Certamente para "sarar" de tantos complexos sepultados pelo esquecimento, teria de devolver alguma palmada pela razão imprecisa e ausência de lembrança havida de minha parte. Outras devoluções, talvez, fiquem por conta do além - para o Gabriel sentir e entender algum puxão pelo pé da cama. Sentia-me um pobre ex-seminarista perdido no meio de tantas virtudes aladas, entre palmas e palmatórias circundantes - sem saber qual delas tinha mais valor.

Problemão. Então sempre ficava aquela dúvida cruel: ué... mas então, quem seriam os arquétipos dos imoralistas na antiga EAVM? Ou só existiriam no meio das oníricas fantasias da juventude transviada em Copacabana - como nos traziam pelo imaginário as longínquas notícias de revistas da época como O Cruzeiro do Rio de Janeiro? Ou estariam nos bailinhos onde em Inconfidentes santa e piedosamente se dançava bolero (Lucho Gatica, Perfume de Gardênia, etc.) de rosto colado - dois pra cá, dois pra lá...?

Mas de todo modo, o Bié era comportado demais. E nem no campo de futebol dava carrinho. Pois virava exemplo em tudo, além de jogar futebol razoavelmente. Principalmente como meia esquerda no 2º quadro e as vezes carregava a bola matada no peito, atravessada entre os beques. Pois vai daí, o Bié impôs sua moral até no futebol, onde virou treinador. E eu, reserva do segundo quadro. Mas essa o Bié não viu. E o Goleiro adversário era o Krikinha. Lembro de marcar gols, um deles memorável: a correr da bola lançada por trás e esperá- la pela sola da chuteira para marcar (Campo da Escola, 1961 - "treino inaugural/Esculacho F.C.").

E claro, tudo isso serviu para também ficar complexado o resto da vida.
Pois meu pai não se cansava de elogiar a correção "desse rapaz", o Bié. Quem, depois, já na qualidade de técnico e preparador tão elogiado por meu pai depois que o time da EAVM se tornara invencível na região, achava de enfileirar os jogadores antes do início das partidas para dar uma colherada de "Karo" entendida como a "nitroglicerina" indispensável ao esforço a ser feito no campo depois; enquanto eu ficava todo cheio de nojo daquela colher coletiva, toda babada que me chegava. Principalmente quando eu ficava na ponta do outro lado da fileira por onde ele autoritariamente começava. E ele, acho que por capricho inconsciente ou maldosa aposta estatística ou outra fatalidade, sempre começava pelo lado oposto onde eu estava. Razão pela qual eu que sempre fui razoável em matemática e cálculos de chance estatística, resolvi virar centro avante- para ficar no meio. Assim economizava metade das babas, enquanto fechava os olhos e imaginava lamber outras delícias do mundo. Mas, como jogar futebol era importante e gostava, conformado com essa meia desgraça tomava por "disciplina": dever de obediência. Espremido entre o autoritarismo do meu pai e, o autoritarismo simultâneo do Bié. Credo!!! Arre... Arre!!!

Enquanto pra nós, os virtuais "play-boys" da época, também mecânicos na oficina da Escola e depois explendores do sol a ventos largados, os filhos do todo poderoso diretor... ninguém esticava tapete vermelho de meio metro até a encruzilhada!

Essa foto mostra o Bié, como assim o chamávamos, ladeado à esquerda por sua mãe. Enquanto à direita minha mãe está ladeada pela Sra. Renato Davini (Maria de Lourdes), outro também saudoso professor dessa escola e, outra senhora daqui de Inconfidentes cujo nome agora não me ocorre (peço socorro a quem possa ajudar). Muito delicadamente, o Bié virou essa fotografia pelo verso e escreveu a dedicatória à minha mãe a qual deixo de reproduzir, dada a surpresa. Era a alma ardorosa "desse rapaz" como assim dizia. O rigor formal sempre revelado e a arquipoética singeleza a espelhar o sonho do futuro dessa figura singular até pela própria psique formadora na história de Inconfidentes, vindo de Itumirim.

Poois para mim a foto revigora aluno da EAVM, reconhecido no depois semelhante diretor da EAFI: condutor da moral espelhada em códigos de disciplina firmados por meu pai. Aliás, sobre questões de "disciplina" em termos de moral libertária implantada, porém simultaneamente repressiva e hedada do antigo patronato agrícola, o Bié será talvez a melhor testemunha da histórica EAFI a partir do contraditório - visto pelo esforço libertário de um lado aplicado, onde se quebravam verdadeiros grilhões educacionais na época. De certo modo, tudo ainda vivenciado na alma e na pele pelo próprio Bié como antigo aluno. Pois vestíamos botina e gandola caqui (numerada), destinados a viver em regime de internato fechado. Pois em Inconfidentes, "zaluno" era quase pária social execrado (claro, não pelas mocinhas). E o Bié pode testemunhar: naquela época, antes da permissão formal para aluno maior de 18 anos se tornar responsável por si e poder fumar cigarro (Continental sem filtro) no páteo, a "zalunada" praticamente voava atrás da guimba para fumar escondido. E também, antes disso, não elegíamos "líderes" entre os próprios alunos - tão mais livres, sinceros e responsáveis passamos a ser depois naquela época a partir daí. Desde valores e pedagogia revisada pela crítica ao antigo sistema. Mas com essa mudança, sob delegada maior responsabilidade pessoal dada ao próprio aluno como treinamento para a vida, segundo pretendia meu pai, muitas vezes foi eleito o próprio Bié: aliás, a bem da verdade, quem nunca fumou. Pois era exemplo maior também por mais essa virtude histórica da humanidade. Ou no recreio da molecada tenha jogado pelada no páteo histórico com bola de meia. Principalmente depois de virar funcionário na secretaria da escola.

Pois só para lembrar quanto de vivências o Bié ainda carregou pelas costas e pode testemunhar: pois nessa psicologia(coletiva) transmudada, substituia-se, enfim, a "pedagogia" da vara de marmelo escolar associada à figura do "guarda de aluno". Menos formalista, embora quase tão rigososo quanto, substituia-se o psiquismo (rigoroso) "guarda" de aluno destinado a reprimir e anotar "partes" ao diretor (denúncias) com "números" pelos quais identificava o aluno "indisciplinado" ao invés do nome (aluno não tinha nome). E ao qual, via de regra se acrescia o qualificativo policial de "mau elemento" - pois! Pois dá para imaginar a transformação desse pequeno mundo após essa noção pela responsabilidade auto condutora dos próprios alunos ser transferida e acumulada em "poder" formal e disciplinar pelo lider eleito para cada mês. E a haver "juri" popular entre a molecada para dirimir dúvidas e aplicar penalidade.

Pois hoje olho a foto da formatura do Bié, todo bonito de terno branco. E hoje o reconheço, de cabelos algo esbranquiçados pelo fim da metamorfose: de aluno da EAVM de ontem para o ex-diretor da EAFI de hoje entre marcas pelos rostos, maneiras de ser, sorrir e abrir o sobrolho - se contrariado ou não em atitude de expectativa. São o mesmo Bié. No fim, para mim, tudo sem surpresas vistas no retrato desse arranjado meio irmão que tive pela vida entre complexos também pela origem desde Itumirim: pois antes de voltar, eu aqui havia nascido. E teria de lidar pelo resto com mais esse "estrangeiro" que aqui ficou, viu e venceu. Ufa!!!

Pouca coisa? Tudo guardado numa velha foto com motivações familiares e reconhecíveis pelo atavismo das coisas em comum. Pois para mim, até aí vale publicamente ser também comunista assumido pelas demais coisas da vida.

Pois hoje crescidos, após vencer suas lutas e peregrinar por reparos, o resultado está aí. E se mais repararmos na foto, chegamos ao ponto onde por fim se superam complexos em causas sob bençãos do pai escolar entre mães reunidas. E como se fosse tradução da dedicatória oculta, onde a "luta fraca não é para homens fortes" - frase pedagógica herdada desde então, hoje festeja o Bié valores do debate aberto na esfera pública: local onde além de se por em fuga portadores de razões menores, somos também capazes de reparar erros, vencer fraquezas (próprias e alheias), remover obstáculos, falsidades e, patologias educacionais circundantes e circunvagantes - para de novo construir e transcender. E até para transformarmos a antiga EAVM em futura universidade federal especializada, crítica e prospectiva, não é mesmo? Mas isso já é projeto a se retomar nascido por proposta do próprio Bié agora em 1994 - coisa que por certo haveremos de dedicar: "Ao futuro, com carinho" (aqui aproveito essa frase inicial da minha irmã Lúcia aplicada em um de seus trabalhos. Artigo intitulado "Novo Caminho" - como matéria pedagógica incorporada - Clicar aqui para ver)

Pois sob o peso dessa herança comum, reconhecidos em nossos velhos pais recompostos em seus lugares, temos finalmente o Bié: visto na foto cercado de mães por todos os lados.

Daí meu complexo com o Bié. Mas isso ja não é novidade. Depois conto o resto.

domingo, dezembro 17, 2006

José Oliveira de Carvalho


O famoso mestre "" Rodinha. Dispensável dizer, meu venerável professor de matemática de quem aprendi os primeiros teoremas da geometria... para depois nunca mais esquecer Pitágoras, Thales....
Também a "arrumar" coisas até então inconcebíveis como equações de 1º Grau - sob álgebras misteriosas. Abstrações forçadas, postas pela frente como fronteiras de mato fechado a desbravar, além de esgrimir imaginação atrás da razão suficiente. E a percorrer razões inversas até sentir, satisfeito, a validade da "demonstração por absurdo". Algo como purgar comodismos sem fugir de questões a envolver indecifráveis "algorítmos", quase antigas artes de cabala. Jamais professor, confesso, foi-me dado lembrar por muito tempo o "formato funcional" pelo imediato do quanto como expediente se fazia para extrair "raiz" quadrada... Arre!!!

Ah, professor! Sem calculadora... como fazem hoje nas escolas? A meninada já nasce sabendo? Ah, sim... depois ficou mais fácil extrair raiz quadrada: pois era mais fácil entender razões (propriedade) das somas logarítmicas representarem multiplicações - no campo dos números reais. Mas naquele tempo a gente nem sabia usar régua de cálculo!

Ainda o encontro por vezes aos domingos quando almoça no Nikolas, em Ouro Fino.
O impulso do abraço à mesa onde estiver é irresistível.

Ah, sim! Porque "Zé" Rodinha?
Bem, existem duas versões. Ou até mais outras duas para completar as primeiras pela análise das fontes históricas.

A primeira, mais simplista e imediata, é pela suposta quantidade de "zeros" que a molecada tirava nas provas de matemática. Zeros, lascados pelo professor "sem dó e nem piedade", como fato generalizado, amplamente constatado e tornado lenda pela "zalunada". Até para obrigar a meninada a estudar mais...

Mas havia ainda uma segunda. Essa, devia-se à sua assinatura. Tanto a que reconhecia firmas no Cartório onde além de professor também era o tabelião, como nas rubricas que colocava nas provas ao lado da nota - para a gente conferir. A assinatura corrente começava e ia muito bem enquanto estava no "José". Depois, quando passava para o Oliveira, aí é que se dava o enrosco. Pareceia que o Prof. Zé rodinha queria pegar o embalo para continuar a escrever o "liveira". Aí, ficava com a caneta rodando em sentido anti-horário um tempão dando volta para escrever o "O" em maiúscula. E ficava aquele monte de "O" empilhado um em cima do outro e andando um pouquinho mais pra frente, até que já com embalo suficiente pegava no breu e emendava o "liveira escrito assim de carreirinha. E quanto ao Carvalho, talvez já um tanto cansado escrevia direto sem "floreio". Então essa segunda versão, psicológicamente mais plausível talvez fosse a mais razoável das interpretações para a origem do apelido.

Mas sempre há a terceira hipótese, que na verdade é uma junção das duas, posto que ao lado das notas, a rubrica era o "O" do "Oliveira" que a gente sempre confundia com a própria nota...

Daí a quarta, é que não tinha jeito de passar senão contasse direito quantas foras as "voltas" que o professor dava na rubrica: para entender quanto de verdade valeria a nota - confirmada pelo número constante de voltas. E diziam que não adiantava "somar" - pois tudo seria soma de "zero"! Mas ao melhor se conhecer o Prof. via-se logo a injustiça: pois apelido em escola sempre aparece por por alguma secreta maldade de aluno. Especialmente quando tira nota baixa.

Pois é, professor. Lembro muito bem do quanto também "penei", para extrair uma raiz quadrada: na lousa. O temível "exame oral", costume escolar daquela época. Claro, fiquei na tentativa - sem ir além de colocar o primeiro número no radicando e fazer o "rabisco" correspondente à "fase" eletrotécnica incial - tão eletrocutado fiquei - até depois ser recomposto pela surra moral por "refugar" nessa questão.

Ah, também tem o episódio da cura quanto à "colar". Pois haveria uma prova e apesar de estudar, não conseguia entender um teorema geométrico. Pois foi a minha única tentativa de cola: sentei sobre o livro aberto na página onde estava tal assunto. Era uma carteira na primeira fila onde sentava. Claro, não deu outra. O assunto não caiu e, eu fiquei sobre a inutiludade do livro (aberto) sobre o qual sentara e... tão vermelho estava que foi fácil ao professor perceber a situação. Mandou que levantasse. Não levantei. Insistiu. Não levantei. Outra vez... e nada.
Continuei sentado a resolver as questões que sabia. E o Prof. Zé Rodinha parou de circular: ficou de pé, ao lado, o restante da prova. Finda a prova, entreguei a folha, levantei. Ele recolheu o livro na página aberta. Viu o que era. Talvez, até pela desnecessidade, nunca vi alguém abrir um sorriso com tanta expressão piedosa... Menos incisivo seria um "esporro". Pois olha, na falta, sentia imensa vergonha íntima. Poucas vezes passei tanta na vida - coisa de seminarista incontinente em estado de pureza traída após achar-se o último dos homens da Terra a fugir do que era. Talvez o prisioneiro chinez humilhado em praça pública por outro motivo fosse menos doloso.

Mas... primeira e ultima, o efeito terapêutico foi imediato, devastador e permanente. Foi insuportável a ironia do mestre. Comprimiu a "mola" da matéria ao indispensável. Sendo resto a energia. A resiliência. E pela energia contrária despertada, a expansão restauradora da geometria e moral comprimida. E parece, para provar tudo isso em gráficos de "tensão x deformação" para depois traduzir isso pelo campo dos esforços sobre os tecidos sociais pelas razões economicas depois ainda agregadas ainda terminei virando professor de Resistência dos Materiais. Pois o Prof. José Rodinha foi "avô" alunos da PUC e da UNICAMP em Campinas, al[em de outros, em Barretos para entendimento de assuntos dessa natureza derivadas do rigor matemático e pelas exigências da estatística. Para azar dos meus alunos, também ficava ao lado de quem fizera meu antigo papel. E para minha grata alegria, até hoje poder dizer isso: já fui um "Zé" Rodinha como modelo aplicado. Nada como por acaso, mas até como premonição antiga em observação de avô firmada no tempo. Energia que jamais aceitou ou aceitaria ser comprimida sem encontrar resposta a altura. E devo agradecer ao Pro. Zé Rodinha isso: nunca mais consegui colar.

Uma homenagem ao mestre

Ah, sim. Talvez por isso fiz depois engenharia. E hoje, ao professor- quem primeiro me ensinou a ler e interpretar gráficos matemáticos - faço a homenagem pelo rigor matemático adquirido e, pela insersão em ética aplicada. Pois já na fase profissional e madura da vida, além de não aceitar e ver todos fugirem ao confronto após denunciar superfaturamento em obra pública de minha autoria (referente à ampliação do sistema de abastecimento de água em campinas - registro em cartório pela "honra do diploma" em 12/07/1989 - clicar aqui para ver) , também virei calculista estrutural a usar o coeficiente de segurança mais baixo (versão mais ousada da NB1-1962). Pois meus prédios estão de pé. E também por isso durmo sossegado.
E tenho uma certeza: o Prof. "Zé" Rodinha tem tudo a ver com isso.

Fica aqui minha homenagem. E palavra final. Apresentados os gráficos na Justiça, fugiram todos. E poderosos denunciados calaram a boca forçados. Hoje na moldura, são troféus. Enfeitam paredes em minha casa. E mais valeriam pela verdade matemática conferida: caso o antigo aluno, agora feita a lição viesse pedir o visto e a conferência. E por fim, não esquecer de assinar! Com o "O" junto com a nota final - sempre esperada.

Ah, sim! Nesse tempo, meu pai era diretor.
Não havia e nem era tolerada falta de respeito entre aluno, professor e funcionário.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

João Soares

Se nessa Terra alguém deixa gravadas no tempo frases a exprimir época (Inconfidentes,1960) e o espírito circunvagante em território lúdico de estar feliz próprio, demarcado, sem dúvida esse alguém será João (Soares) - filho da Dona Ita, onde também residia a irmã Teresinha. Pois logo abaixo da casa onde morava, havia o espaço centralizado por um antigo poste (posição central) na Av. Alvarenga Peixoto ao cruzar com a rua Marília de Dirceu - .

Pois alguns pontos da cidade ainda tem "dono". Como se ali permanecessem personagens da própria história marcada pelo espírito no tempo . Pois alí, como energia ainda a ressoar continuam paralogismos e enunciados de ordem filosófica "urbi et orbi" sobre a própria razão de ser e alí estar - entre perdidos e achados locais guardados no tempos. Reconhecido naquela época, Joãozinho era um dos poucos personagens da antiga "Colônia" a solenemente carregar no bolso "carteira de motorista" - status social mais cobiçado e raro - algo hoje como "brevê de aviação". Por esse motivo e, também por vibrar com os motores, para mim Joãozinho ainda é o homem do "Alcool Motor". Era sua marca registrada guardada para as conversas da noite sob as luzes do poste central. Hoje, como se vê, a virtuosa idéia era tecnologia primitiva desde então e aqui virtualmente "patenteada" - ad perpetuam rei memorian.

Mas o tempo passou. E joãozinho sempre camarada e amigo da molecada, ficou. Como sua lembrança aqui não podia faltar, pedi ao Fernando, seu filho, uma foto bonita que tivesse desse velho amigo . Pois no retrato, eis de novo Joãozinho na "ativa" - pelo quanto mais gostava de fazer, dionisíaco, nessa foto singular. E a completa o Jeep, o tempo e a circunstância! Ora, em se tratando de João (Soares) - funcionário da EAVM sempre chamado pelo nome completo - se cada fato é surpresa, cada foto também é.

Pois hei-lo como se ainda presente e a resolver os mais diversos problema da humanidade na Terra! Se naquela época alguém de fora precisasse de um guia como virtual "estrangeiro" desejoso de conhecer Inconfidentes, sem nunca se perder ou por a mão em cumbuca, mas sempre a se divertir, não haveria melhor. Acostumado ao improvisar, nunca imaginei o Joãozinho mundo afora: a levar árvores plantadas num Jeep circundado por "bambuzal" florido ! Mas... olho espantado a foto - e o reconheço: compenetrado, só poderia mesmo ser Joãozinho Soares!

De novo reencontro no antigo "cicerone" a necessidade de decifrar confusas mensagens nessa babel histórica que sempre foi Inconfidentes por suas diversas linguagens: como explicar a faixa ostentada no Jeep? Onde o termo "maior", ostensivo, exposto, torna dispensável à compreeensão o arranjo circundante - sempre coisa "menor". Simples: Joãozinho sempre desprezava as coisas menores. Depois, tudo se esclarecia sob as luzes incandescentes junto ao poste central da Avenida. Senão, para desfazer confusões remanescentes, o remédio era seguir pela diagonal, até chegar às imediações do "Bar do Titonho". Para quem não sabe, lugar de Inconfidentes onde também a vida pacata fluia ao avesso das mágoas; porta a dentro, eflúvios sempre benéficos de novo expandiam a fantasia do viver - porta a fora. E Célia Alberti, a sempre lembrada sobrinha do Titonho é quem atendia no balcão com pinga e grozelha ao distinto público cativo do famoso "rabo de galo" - sempre o chic no último da época. E também, discretamente atendia a freguezia escondida no "reservado" - com a distinta cerveja e mortadela. Ah, sim, breve explicação: naquela época todo bar tinha um "reservado" (separava cliente mais "distinto" no antro da "pinguçada" um tanto ralé). Mas Joãozinho sempre era festejado em todas as rodas pelo "bom papo".

Como se vê, era nesse Inconfidentes o lugar onde se tinham antevisões sobre o "pró-alcool".
Pois sou testemunha: essa previsão tecnológica fora enunciada repetidas vezes por Joãozinho na outra calçada frente ao Bar do Titonho - onde se tomava ar fresco enquanto a gente via passar as meninas. Pois ao chegar, junto ao poste, e revisar pontos da própria meditação, ainda dizia o Joãozinho (Soares): "O futuro? O futuro está no Alcool Motor". Para quem não sabe, isso ocorreu em 1959; quando aqui no Brasil, ninguém sequer sonhava com carro movido a alcool. Mas sob as luzes desse poste, dizia-se e repetia-se: - "taí o futuro: Alcool Motor, pode escrever"!

Mas não era só: localmente, a cultura desse insumo agrícola ganhava sempre novas dimensões também graças aos esforços do Joãozinho. Pois naquela época vinham funcionários da capital - certamente para inspecionar desenvolvimentos e avaliar práticas pedagógicas correspondentes na antiga EAVM. E para melhor mover a economia do País, a eles lembrava outras alternativas também já testadas com relativo sucesso depois da invenção da máquina a vapor; ou seja, o próprio uso da madeira (combustivel alternativo) durante a guerra: quando os carros andavam com aquele bujão ("gazogênio") sobre a capota. Pois aqui, pioneiramente se marcava o progresso alternativo da industria automobilística pelo Alcool Motor. E mostrava o potencial da produção local. Ao retonar, todo estrangeiro sabia de cor os versinhos da Pinga Meu Bem.

Ah, sim: nunca vi Joãozinho de mau humor! Um dia que fosse!

Finalmente, outra particularidade: Joãozinho era um notável personagem de Inconfidentes na década de 60, até um dia capitular e finalmente casar com Dna. Lídia - aliás, quem me emprestou outras fotos. Mas antes disso, sou testemunha: tanto na Colônia como em Ouro Fino, era o "solteirão" mais requestado pelas moças casadoiras de então dispostas a circular no trajeto da Avenida - pelo "footing" - desde o Bar do Titonho até o "Mamute" (onde hoje é a papelaria do Adauto). Mas no trajeto era duro na queda. Certamente se precavia sobre maus resultados. As vezes, para se esconder, era forçado a buscar refúgio no "reservado" do Guilherme Stack . Aliás, lugar onde se tomava o melhor vinho. Mas para Joãozinho o coração era apenas um "musculo" que após se machucar, era também capaz de se "recompor" rápido. No mais, para que guardar coisas da vida... ofensa? Mandava esquecer. Dizia: era "mais saudável". Depois, no resto, conselheiro da molecada frisava: "bebida faz mal. Só em último caso". E como tecnologia futurística aplicada, apenas recomendava o uso do "alcool motor". Hoje, para mim é impossível ver carro a alcool sem lembrar desse velho amigo - sempre brincalhão!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Amador Ferreira


O saudoso Dr. Amador, como era costume ser chamado, foi vice diretor na antiga EAVM - Escola Agrícola Visconde de Mauá, onde também era professor de Indústria Agrícola. E professor de Agricultura. Sinceramente, não sei como o Dr. Amador arranjava tanta paciência para aturar as bobagens da gente naquela época.

Vez por outra, costumávamos interromper as aulas - sempre com alguma provocação para ver o Dr. Amador contar alguma piada. Pronto! Acabava a aula. O problema, é que o professor era uma alma pura, isenta de maldade e, levava tudo na boa fé. E sempre de bom humor, nem percebia quando a gente malvadamente aproveitava alguma piada meia "sem sal" para inventar uma história um tanto sem pé e nem cabeça para depois pedir opinião sobre o "assunto".
Daí, pelas razões paralelas o tempo escorria...

Mas depois ele percebia. Aí fechava um pouco a cara.
Fazia um ar de bravo. Mas mesmo bronqueado encerrava o assunto - sem contudo perder a fala sempre mansa : "uai... o que foi que voces não voces não entenderam? Foi a aula? Acham que eu sou bobo... é? Brincadeira tem hora, viu?"

O que mais me arrependo até hoje, é não ter guardado os velhos cadernos de escola. Pois o Dr. Amador costumava ditar a matéria para a gente copiar no caderno. E depois, nas provas, não havia professor mais generoso; era só lembrar de algumas "frases" mais famosas e pronto: lá vinha 8, daí pra cima! Disso tudo, eu nunca esqueci quando, um dia, numa aula sobre máquinas e equipamentos diferenciava-se o arado de tração animal, considerado em duas categorias.... Assim, o "arado de disco" além do disco propriamente dito para revirar a terra, tinha ainda uma "boléia" para alguém, se quisesse, ir sentado e a sacolejar sobre o próprio arado. Já o de "aiveca", reversível ou não, quando visto por trás, tinha as duas alças que "pareciam asas de uma gaivota em preguiçoso vôo"...

Mas a paciência do Dr. amador parecia mesmo ser infinita. As vezes para provocar, combinávamos assistir as aulas de terno e gravata... e aí, surpreso ele exclamava: uai... vocês vão a um casamento? E mandava tomar cuidado com a desnatadeira para não deixar respingar... Pode? Haja bondade e paciência!

Porém, o Dr. Amador, gostava de dirigir
e, tentava "praticar" a para tirar carteira de motorista.
Mas terminou por desistir, pois não tinha mesmo jeito. A maior vítima era a velha "perua"
"Chevrolet-1948", uma curiosa estrutura de madeira sobre chassis de caminhonete. E aí residia o perigo, pois o problema maior era distinguir em qual ordem ficavam os pedais do freio, embreagem e acelerador.

Certa vez, numa primeira tentativa, ao chegar à encruzilhada ("trevo" da MG 290), começou a "desterçar" (virar o volante) para a esquerda, pois queria ir para Ouro Fino; e conforme explicava, se continuasse em frente iria para Borda de Mata. Mas... não teve jeito. Virou o volante antes do tempo: assim a frente do carro desceu pela lateral do aterro e "tombou devagarinho"... fora da pista - como se o a parte do teto
ainda insistisse em "ir" para Borda.

Claro, era difícil deixar de acreditar em milagre quando o Dr. Amador dirigia.
Mas milagre acontecia, sim senhor. O mais famoso deles, foi quando numa outra ocasião voltava de Ouro Fino. Pilotava uma velha caminhonete Studebaker-47 cujo "folga"
do volante dava meia volta na diração para cada lado. Mas isso não era problema para quem já estava acostumado. Porém, esse carro tinha mais um problema: escapava a marcha (2ª) na descida ou quando se tirava o pé do acelerador. Pois não é que nesse dia o Dr. Amador praticamente "nasceu de novo"? Pois foi justamente nessa tentativa de voltar para Inconfidentes, quando "desceu" desembestado a ladeira da famosa "curva da morte" nessa virtual "banguela"!

Ora! Ninguém duvide: milagre existe. E quem mais se admirava com isso era o Joãozinho (Soares) o instrutor sobrevivente de então. Pois esse não cansava de contar e recontar. Acontece que a "curva da morte" naquela época tinha um pequeno "bosque" de eucaliptos - o qual, justamente, ficava pelo lado da ribanceira - para fora da curva.
Pois sem conseguir fazer a curva, a caminhonete passou reta e a "voar" pelo meio das árvores. Principalmente, entre dois eucaliptos - cuja medida era de apenas alguns milimetros a mais da largura do carro. Finalmente, o milagre: tudo foi parar lá em baixo com o carro inteiro e ninguém se machucou!

Tempos depois, refeito do susto o Dr. Amador até tripudiava: "Barbeiragem?
Nada! Foi só questão de pontaria"...

Pois ora veja, quanta coisa mudou! Hoje até o "trajeto" fechado da curva ficou mais suave.
E mais recentemente, também cortaram os eucaliptos! Mas depois disso, bondosamente o saudoso Dr. amador parou de insistir na "arte de dirigir" e, todos aqui na "Colônia" ficaram muito felizes. E tornou-se prazer para o hoje também saudoso Chicão, o velho motorista que conhecia a "manha" de todos os carros pegar o boné e levar o Dr. Amador - onde precisasse!
Salve, salve, Dr. Amador! A gente tripudiava porque sabíamos: era um grande coração.
E certamente como agora, de lá no céu ainda perdoa - como perdoava.





quarta-feira, novembro 29, 2006

Antônio Teodoro

Toninho, como é conhecido.

A paisagem de Inconfidentes não estaria completa se faltasse o Toninho sentado no "point", seu lugar cativo na esquina da Rua Sargento Mor com a Av. Alvarenga Peixoto, onde ficava antigamente o açougue do seu Américo.

Toninho hoje é funcionário aposentado da Prefeitura Municipal. Mas vez por outra, a gente o encontra no batente junto com a turma da prefeitura. Ajuda em algum conserto de calçamento ou em obra que exija conhecimento das coisas mais antigas da cidade. Quem não conhece o Toninho?

Nos idos de 1960, toninho jogava futebol. Era centro avante, o maior craque do Inconfidentes F.C. Sempre atraída onde estivesse, a bola era lhe obediente. Seguia por seus pés enquanto os beques ou corriam atrás ou permaneciam sentados no chão. Era o futebol arte que existia no Brasil. Conforme o jargão da época, muitos times da região, vinham "requisitar" emprestado o grande craque de Inconfidentes para "enxerto" em partidas decisivas. Hoje é sempre alegria encontrar essa figura humana sentado nesse canto de mundo - onde ainda contemplativo a seu modo filosofa e compõe a estética da vida como arte em si.

Hoje Toninho virou avô. Passeia com a netinha Fernanda de bicicleta por aí; enquanto, de novo, boboletas e canarinhos povoam as terras na fazenda.

terça-feira, novembro 28, 2006

Seu Ico

Sempre em forma!

Velho craque do Inconfidentes FC!

Dominava a bola e distribuia como queria.
Também jogou no Palmeiras. Era "center-half".

Ainda vou publicar foto dos times onde jogou o Seu Ico. Velho amigo do meu pai. Pessoa grata pela amizade sempre consevada.

É uma alegria encontrá-lo à porta da Casa Garcia!

Pois foi na antiga "Venda do Ico", onde hoje se ainda encontra o velho casarão (desfigurado) do Zé Garcia; foi alí que um dia "chegou", materializada, a televisão - pela primeira vez em Inconfidentes!

Vieram não sei d'aonde fazer demonstração.
Só lembro isso: a televisão (branco e preto, claro) ficou em cima do balcão, virada para a rua.

Enquanto na porta, em meio ao juntamento, na calçada alguém segurava a antena no alto de um enorme bambú (enquanto isso as "listas" escorriam pela tela "zebrada" e apareciam imagens rápidas no meio de "chuviscos")...

E lógico, o povo se juntava na calçada para ver tamanha "novidade", uai...

Ora que ironia! Hoje, a televisão (colorida) fica na porta da Casa Garcia... é por onde se vê chegar o resto das "novidades" do mundo novo!!!
Pois lá dentro, velho mundo, fora coisas e mercadorias do que a gente mais precisar marcado na caderneta, tudo é velho.... Principalmente a velha amizade.

José Garcia


o Seu Zé Garcia era referencia para quem quisesse saber os rumos políticos de Inconfidentes. Sentava-se num banco frente ao antigo casarão onde hoje hoje é a "rodoviária".

E daquele banco se decidiam as questões fundamentais da terra sob a opinião do Zé Garcia, tal como se fazia nos "tempos dos coronéis". Para mim, era a própria figura do coronel. Tal como a gente está acostumado a ler nos romances. Falava baixo. Não precisava se exaltar. E tudo, mais ou menos, terminava ajustado ao como ele achava e devia de ser.

Por fim, a Escola agrícola deve muito de sua existência ao Zé Garcia.
Pois foi graças a ele, junto com o filho Ico mais Agenor Junqueira e Mário Bonamichi que a EAVM sobreviveu, sustentada anos e anos quando as verbas foram cortadas e meu pai havia recebido "ordens" para fechar. Reuniram-se e decidiram bancar a continuidade.
Meu pai, lembro, mesmo as vezes contrariado, sempre ouviu com muita atenção a opinião do Zé Garcia.

Paulo Alberti


Paulo Alberti, hoje é funcionário aposentado da EAVM/EAFI.


Seu Paulo sempre foi amigo e meio cúmplice da molecada, pois sabia todas as traquinagens que a gente fazia. As vezes fazia cara feia. Mas a gente sabia que era só para constar.

No mais, Seu Paulo continua tão alegre como era naquela época. E não esquece as histórias do Dr. Amador.

E guarda tudo de memória. Ele viu nossa turma ir um dia assistir aula todos vestidos de terno, mais uma molecagem como na época combinamos em turma de aluno. E até hoje, é só encontrar o Seu Paulo. E lá vem as histórias de quando o Dr. Amador descrevia o arado de aiveca (visto por trás) como se "fosse uma gaivota em preguiçoso vôo".

E o taxi do Seu Paulo, na época era um Chevrolet 1948/9. Aliás, o único "carro fechado" de Inconfidentes, o que era considerado muito "chic", já que os outros taxis eram "Fordinhos-29". Esses eram preteridos pois eram "duros": sacolejavam muito - como se cabritassem pelas estradas de terra, enquanto o carro do Seu Paulo ia macio.... E a capota de lona dos fordecos não protegiam tão bem o freguês da chuva e da poeira. Pode?

Eurico Alberti


Eurico Alberti, funcionário aposentado da EAVM.


É o "Ming", como assim o chamávamos na oficina mecânica da escola. Com o Ming não tinha tempo quente. Motorista capaz de cambiar o velho Studebaker - 48, caminhão de "caixa seca", que para não raspar na troca de marchas, tinha de dar o "tempo" certo como "prática de ouvido" sob o ronco do motor para com isso fazer "encaixar" as engrenagens na caixa de cambio em sincronias de velocidade. Porque senão, era aquele vexame.

Quem não sabia disso, até achava que os outros motoristas eram "barbeiros".
Pois além do Ming, ao que se saiba só o velho Chicão é quem também, conseguia mudar as marchas sem raspar. E a paixão do Ming era esse velho caminhão. Aliás, desprezado quando tempos depois surgiu o F-600, um Ford 1958 estalando de novo naquela época e tinha cambio "sincronizado" além da "reduzida" e do "freio à bafo".

Mas o orgulho do Ming era mesmo desfilar com o velho caminhão - depois guardado na "garagem" e flanelado para não ficar poeira...

Sílvio Pestelli

Sílvio Pistelli, hoje é também funcionário aposentado da EAVM/EAFI.

Velho amigo do meu pai e pela família. Pessoa fiel, sincera e de alma aberta; e assim, ao quanto lembro, até última hora guardou a velha amizade.

Além de conselheiro apaziguador da molecada, Seu Sílvio era ferreiro. Forja, marreta e bigorna espoucavam e zuniam ritmadas. E pela forma e contorno o ferro se amoldava ao desejo dos deuses, depois do fregues e, por fim, dele próprio conforme melhor lhe aprouvesse.

Seu Sílvio tecia obras de arte. Primeiro, dobrava o ferro. E depois surgia a utilidade. Era magia estendida pelo ferro o "vir a ser" formado pela vontade tonitruante dos deuses a moldar, rebater, repicar, repetir e tornar matéria a faisca vermelha. Enquanto o ferro contorcia sem queimar o avental de couro enegrecido - parede de arte; separada, à parte.

Ah, sim.

Seu Sílvio regulava os excessos das "zalunada" na oficina. Mas nunca recusou convite para galinhada enquanto a forja descansava de mais uma atividade criativa, humorada, dionisíaca. Galinhas do boa procedencia ele deixava. Mas galo vindo não se sabe d'onde, não. Esses ele mandava devolver.
Pois para o Seu Sílvio, o trabalho era prazer. Sendo resto, histórias para contar.

Outro dia, encontrei o Seu Sílvio. Tirei essa foto. Mas, prometo, vou publicar outras, ainda dos idos de 1960 - guardadas também com imenso carinho por aquela época.
Pois é, Seu Sílvio! Que a vida longa ainda o tenha para alegria de todos nós em Inconfidentes, uai!

Lucimar Garcia


Lucimar - em baile de formatura na EAVM (1960).

Lucimar, minha querida amiga, vou-me permitir postar essa foto; gosto muito dela, pelo "como éramos" naquela época: voce como parte da minha turma naqueles anos dourados (1960).
Voce está linda e esse vestido (veludo vermelho) fez o maior sucesso como se vê.

Acho que jamais Inconfidentes teve bailes de formatura com tanta pureza e inocencia como quando se juntavam às fantasias do "bem querer" pelas danças imaginárias da vida como era, quando se dançavam boleros com rosto colado - "dois pra lá, dois pra cá".

Aliás, reconheco, eu pisava duro. E você teve paciência de ensinar...

Dagmar


Dagmar Engemann Guidi, filha do Seu Humberto.

E como tal, naquela época (Dagmar teria 15 anos!) era inescapável concluir: "toda donzela tem um pai que é uma fera"!

Dagmar é minha velha companheira nesses anos de Inconfidentes.
Gosto dessa foto. Namorada de irmão. Só podia ver, sem se atrever, como era o ditado da época.

Fazia parte da "roda". Jamais faltava a um bailinho.
Mas... era "par constante".

A Dagmar é um enigma.
Até hoje ainda não sei como seria se fosse inconstante.
Só sei de uma coisa: é a amiga mais sincera de Inconfidentes.
A gente não perde tempo com firulas e cada um diz o que pensa.
É uma alegria topar com a Dagmar pela rua.
A última vez que ela ficou brava comigo foi depois da eleição para prefeito. Cercou-me na rua e exclamou enfurecida: - "Raul, o que foi que voce falou mal do Breno"? (candidato do PT)

Só pude exclamar: "Eu? Mal do Breno? Eu não! Foi só em cima do PT!"

Pronto. Tudo certo. A velha amiga sorriu. Largo sorriso, sarcástica!
Não precisei explicar mais nada.

Antônio Scheffer


Antônio Scheffer,

Coração doce, face enternecida. E o mundo a ser olhado. Cadeira, varanda. Vagar ao passar.

Talvez o mais antigo ex-aluno da EAFI, onde foi aluno ha 71 anos atrás como guarda na memória.

Hoje seu Antônio abre os olhos e fala com a voz da eternidade sobre irmãos do céu como se tivesse segredos da alma a contar. Fala de pessoas queridas. Meu pai, minha mãe. E se abre ao diálogo da vida.
Passo quase sempre sob sua varanda. Seu antônio à cadeira ve o mundo passar.
Vez por outra paro para prosear, se não for para lançar candidaturas como ainda se vê procurar.

Mas Seu Antônio, com o orgulho dos vencedores, deixa muitas obras em Inconfidentes e outras pela EAFI. E conta. Muito, são casas construidas. Até para quem não lhe pagou - hoje mágoa desprezada. Como despresa as coisas pequenas da vida que não valem mais a penas conservar.

Ah, sim! Seu Antônio é funcionário aposentado da Prefeitura. Aliás, comçou antigo funcionário da Prefeitura de Ouro Fino; pois naquela época, Inconfidentes ainda era distrito. E recorda a advertência que então lhe fez o prefeito de Ouro Fino (1963) , seu amigo pessoal: "Então você vai optar por Inconfidentes ? Não quer ficar?"

E lembra do comentário final: "você vai sofrer". E não deu outra, conta vitorioso.

Para quem não sabe, o Pai do Seu Antônio era o saudoso Pedro Scheffer (também antigo funcionário da Escola, criava abelhas), cuja casa onde hoje moram o filho Armindo com mais outros da família, fica logo depois da ponte de concreto (1950) sobre o Rio Mogi - saída para Ouro Fino pela "estrada velha". Pelo batismo popular, o local é conhecido como a Ponte do Pedro Scheffer.

Mozart


Mozart Ferreira, Funcionario aposentado da antiga EAVM, hoje EAFI. Seu pai, o saudoso Solon Ferreira.

Mozart, velho amigo!
Outra alegria em Inconfidentes, é andar pelas ruas e, de repente, topar com o Mozart. É inevitável o abraço carinhoso.

Parece, fomos cúmplices na juventude. Talvez sua grande mágoa na vida foi não "dirigir" a baratinha do Pe. Antônio (Chevrolet cupê 1937). Pois esse, logo trocou por um Jeep Willys-59 - motor de 6 cilindros que subia em parede. Foi quando depois me senti como "motorista substituido", pois o Mozart era mais ajuizado, com certeza.

Mas era nisso que dava, ser "coroinha" e ser ateu ao mesmo tempo. Quando era para levar o padre em Crisólia, eu ficava na porta, esperando... O Mozart, de certo, mesmo que não rezasse muito: ajudaria e tocaria campainha.

Mas na oficina mecânica, a coisa era séria: embora volta e meia a gente tivesse de fazer mágica para fazer máquina velha rodar de novo... E hoje garanto: só Mozart é quem sabe fazer de novo funcionar o motor do velho "Allis Chalmers" - trator de bitola estreita e roda de ferro, decerto encostado como sucata em algum barraco da EAFI, assim como o "Cock shutt", um trator volta e meia "perneta". Por fim, jamais voltou a andar de quatro. Mas esse era "diesel", coisa mais "moderna" e a gente tinha respeito. Ainda existe?