O saudoso Dr. Amador, como era costume ser chamado, foi vice diretor na antiga EAVM - Escola Agrícola Visconde de Mauá, onde também era professor de Indústria Agrícola. E professor de Agricultura. Sinceramente, não sei como o Dr. Amador arranjava tanta paciência para aturar as bobagens da gente naquela época.
Vez por outra, costumávamos interromper as aulas - sempre com alguma provocação para ver o Dr. Amador contar alguma piada. Pronto! Acabava a aula. O problema, é que o professor era uma alma pura, isenta de maldade e, levava tudo na boa fé. E sempre de bom humor, nem percebia quando a gente malvadamente aproveitava alguma piada meia "sem sal" para inventar uma história um tanto sem pé e nem cabeça para depois pedir opinião sobre o "assunto".
Daí, pelas razões paralelas o tempo escorria...
Mas depois ele percebia. Aí fechava um pouco a cara.
Fazia um ar de bravo. Mas mesmo bronqueado encerrava o assunto - sem contudo perder a fala sempre mansa : "uai... o que foi que voces não voces não entenderam? Foi a aula? Acham que eu sou bobo... é? Brincadeira tem hora, viu?"
O que mais me arrependo até hoje, é não ter guardado os velhos cadernos de escola. Pois o Dr. Amador costumava ditar a matéria para a gente copiar no caderno. E depois, nas provas, não havia professor mais generoso; era só lembrar de algumas "frases" mais famosas e pronto: lá vinha 8, daí pra cima! Disso tudo, eu nunca esqueci quando, um dia, numa aula sobre máquinas e equipamentos diferenciava-se o arado de tração animal, considerado em duas categorias.... Assim, o "arado de
Mas a paciência do Dr. amador parecia mesmo ser infinita. As vezes para provocar, combinávamos assistir as aulas de terno e gravata... e aí, surpreso ele exclamava: uai... vocês vão a um casamento? E mandava tomar cuidado com a desnatadeira para não deixar respingar... Pode? Haja bondade e paciência!
Porém, o Dr. Amador, gostava de dirigir
Mas terminou por desistir, pois não tinha mesmo jeito. A maior vítima era a velha "perua"
Certa vez, numa primeira tentativa, ao chegar à encruzilhada ("trevo" da MG 290), começou a "desterçar" (virar o volante) para a esquerda, pois queria ir para Ouro Fino; e conforme explicava, se continuasse em frente iria para Borda de Mata. Mas... não teve jeito. Virou o volante antes do tempo: assim a frente do carro desceu pela lateral do aterro e "tombou devagarinho"... fora da pista - como se o a parte do teto
Claro, era difícil deixar de acreditar em milagre quando o Dr. Amador dirigia.
Mas milagre acontecia, sim senhor. O mais famoso deles, foi quando numa outra ocasião voltava de Ouro Fino. Pilotava uma velha caminhonete Studebaker-47 cujo "folga"
Ora! Ninguém duvide: milagre existe. E quem mais se admirava com isso era o Joãozinho (Soares) o instrutor sobrevivente de então. Pois esse não cansava de contar e recontar. Acontece que a "curva da morte" naquela época tinha um pequeno "bosque" de eucaliptos - o qual, justamente, ficava pelo lado da ribanceira - para fora da curva.
Pois sem conseguir fazer a curva, a caminhonete passou reta e a "voar" pelo meio das árvores. Principalmente, entre dois eucaliptos - cuja medida era de apenas alguns milimetros a mais da largura do carro. Finalmente, o milagre: tudo foi parar lá em baixo com o carro inteiro e ninguém se machucou!
Tempos depois, refeito do susto o Dr. Amador até tripudiava: "Barbeiragem?
Pois ora veja, quanta coisa mudou! Hoje até o "trajeto" fechado da curva ficou mais suave.
E mais recentemente, também cortaram os eucaliptos! Mas depois disso, bondosamente o saudoso Dr. amador parou de insistir na "arte de dirigir" e, todos aqui na "Colônia" ficaram muito felizes. E tornou-se prazer para o hoje também saudoso Chicão, o velho motorista que conhecia a "manha" de todos os carros pegar o boné e levar o Dr. Amador - onde precisasse!
Salve, salve, Dr. Amador! A gente tripudiava porque sabíamos: era um grande coração.
E certamente como agora, de lá no céu ainda perdoa - como perdoava.
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