domingo, dezembro 17, 2006

José Oliveira de Carvalho


O famoso mestre "" Rodinha. Dispensável dizer, meu venerável professor de matemática de quem aprendi os primeiros teoremas da geometria... para depois nunca mais esquecer Pitágoras, Thales....
Também a "arrumar" coisas até então inconcebíveis como equações de 1º Grau - sob álgebras misteriosas. Abstrações forçadas, postas pela frente como fronteiras de mato fechado a desbravar, além de esgrimir imaginação atrás da razão suficiente. E a percorrer razões inversas até sentir, satisfeito, a validade da "demonstração por absurdo". Algo como purgar comodismos sem fugir de questões a envolver indecifráveis "algorítmos", quase antigas artes de cabala. Jamais professor, confesso, foi-me dado lembrar por muito tempo o "formato funcional" pelo imediato do quanto como expediente se fazia para extrair "raiz" quadrada... Arre!!!

Ah, professor! Sem calculadora... como fazem hoje nas escolas? A meninada já nasce sabendo? Ah, sim... depois ficou mais fácil extrair raiz quadrada: pois era mais fácil entender razões (propriedade) das somas logarítmicas representarem multiplicações - no campo dos números reais. Mas naquele tempo a gente nem sabia usar régua de cálculo!

Ainda o encontro por vezes aos domingos quando almoça no Nikolas, em Ouro Fino.
O impulso do abraço à mesa onde estiver é irresistível.

Ah, sim! Porque "Zé" Rodinha?
Bem, existem duas versões. Ou até mais outras duas para completar as primeiras pela análise das fontes históricas.

A primeira, mais simplista e imediata, é pela suposta quantidade de "zeros" que a molecada tirava nas provas de matemática. Zeros, lascados pelo professor "sem dó e nem piedade", como fato generalizado, amplamente constatado e tornado lenda pela "zalunada". Até para obrigar a meninada a estudar mais...

Mas havia ainda uma segunda. Essa, devia-se à sua assinatura. Tanto a que reconhecia firmas no Cartório onde além de professor também era o tabelião, como nas rubricas que colocava nas provas ao lado da nota - para a gente conferir. A assinatura corrente começava e ia muito bem enquanto estava no "José". Depois, quando passava para o Oliveira, aí é que se dava o enrosco. Pareceia que o Prof. Zé rodinha queria pegar o embalo para continuar a escrever o "liveira". Aí, ficava com a caneta rodando em sentido anti-horário um tempão dando volta para escrever o "O" em maiúscula. E ficava aquele monte de "O" empilhado um em cima do outro e andando um pouquinho mais pra frente, até que já com embalo suficiente pegava no breu e emendava o "liveira escrito assim de carreirinha. E quanto ao Carvalho, talvez já um tanto cansado escrevia direto sem "floreio". Então essa segunda versão, psicológicamente mais plausível talvez fosse a mais razoável das interpretações para a origem do apelido.

Mas sempre há a terceira hipótese, que na verdade é uma junção das duas, posto que ao lado das notas, a rubrica era o "O" do "Oliveira" que a gente sempre confundia com a própria nota...

Daí a quarta, é que não tinha jeito de passar senão contasse direito quantas foras as "voltas" que o professor dava na rubrica: para entender quanto de verdade valeria a nota - confirmada pelo número constante de voltas. E diziam que não adiantava "somar" - pois tudo seria soma de "zero"! Mas ao melhor se conhecer o Prof. via-se logo a injustiça: pois apelido em escola sempre aparece por por alguma secreta maldade de aluno. Especialmente quando tira nota baixa.

Pois é, professor. Lembro muito bem do quanto também "penei", para extrair uma raiz quadrada: na lousa. O temível "exame oral", costume escolar daquela época. Claro, fiquei na tentativa - sem ir além de colocar o primeiro número no radicando e fazer o "rabisco" correspondente à "fase" eletrotécnica incial - tão eletrocutado fiquei - até depois ser recomposto pela surra moral por "refugar" nessa questão.

Ah, também tem o episódio da cura quanto à "colar". Pois haveria uma prova e apesar de estudar, não conseguia entender um teorema geométrico. Pois foi a minha única tentativa de cola: sentei sobre o livro aberto na página onde estava tal assunto. Era uma carteira na primeira fila onde sentava. Claro, não deu outra. O assunto não caiu e, eu fiquei sobre a inutiludade do livro (aberto) sobre o qual sentara e... tão vermelho estava que foi fácil ao professor perceber a situação. Mandou que levantasse. Não levantei. Insistiu. Não levantei. Outra vez... e nada.
Continuei sentado a resolver as questões que sabia. E o Prof. Zé Rodinha parou de circular: ficou de pé, ao lado, o restante da prova. Finda a prova, entreguei a folha, levantei. Ele recolheu o livro na página aberta. Viu o que era. Talvez, até pela desnecessidade, nunca vi alguém abrir um sorriso com tanta expressão piedosa... Menos incisivo seria um "esporro". Pois olha, na falta, sentia imensa vergonha íntima. Poucas vezes passei tanta na vida - coisa de seminarista incontinente em estado de pureza traída após achar-se o último dos homens da Terra a fugir do que era. Talvez o prisioneiro chinez humilhado em praça pública por outro motivo fosse menos doloso.

Mas... primeira e ultima, o efeito terapêutico foi imediato, devastador e permanente. Foi insuportável a ironia do mestre. Comprimiu a "mola" da matéria ao indispensável. Sendo resto a energia. A resiliência. E pela energia contrária despertada, a expansão restauradora da geometria e moral comprimida. E parece, para provar tudo isso em gráficos de "tensão x deformação" para depois traduzir isso pelo campo dos esforços sobre os tecidos sociais pelas razões economicas depois ainda agregadas ainda terminei virando professor de Resistência dos Materiais. Pois o Prof. José Rodinha foi "avô" alunos da PUC e da UNICAMP em Campinas, al[em de outros, em Barretos para entendimento de assuntos dessa natureza derivadas do rigor matemático e pelas exigências da estatística. Para azar dos meus alunos, também ficava ao lado de quem fizera meu antigo papel. E para minha grata alegria, até hoje poder dizer isso: já fui um "Zé" Rodinha como modelo aplicado. Nada como por acaso, mas até como premonição antiga em observação de avô firmada no tempo. Energia que jamais aceitou ou aceitaria ser comprimida sem encontrar resposta a altura. E devo agradecer ao Pro. Zé Rodinha isso: nunca mais consegui colar.

Uma homenagem ao mestre

Ah, sim. Talvez por isso fiz depois engenharia. E hoje, ao professor- quem primeiro me ensinou a ler e interpretar gráficos matemáticos - faço a homenagem pelo rigor matemático adquirido e, pela insersão em ética aplicada. Pois já na fase profissional e madura da vida, além de não aceitar e ver todos fugirem ao confronto após denunciar superfaturamento em obra pública de minha autoria (referente à ampliação do sistema de abastecimento de água em campinas - registro em cartório pela "honra do diploma" em 12/07/1989 - clicar aqui para ver) , também virei calculista estrutural a usar o coeficiente de segurança mais baixo (versão mais ousada da NB1-1962). Pois meus prédios estão de pé. E também por isso durmo sossegado.
E tenho uma certeza: o Prof. "Zé" Rodinha tem tudo a ver com isso.

Fica aqui minha homenagem. E palavra final. Apresentados os gráficos na Justiça, fugiram todos. E poderosos denunciados calaram a boca forçados. Hoje na moldura, são troféus. Enfeitam paredes em minha casa. E mais valeriam pela verdade matemática conferida: caso o antigo aluno, agora feita a lição viesse pedir o visto e a conferência. E por fim, não esquecer de assinar! Com o "O" junto com a nota final - sempre esperada.

Ah, sim! Nesse tempo, meu pai era diretor.
Não havia e nem era tolerada falta de respeito entre aluno, professor e funcionário.

Um comentário:

Fernando Bartholo disse...

Bela homenagem ao grande e inesquecível professor. Lembro de um vez que, chamado ao quadro para resolver uma equação, de primeira acertei o exercício sem titubear para espanto de todos, meu inclusive e, mais ainda, para o professor que só teve uma reação: ficar olhando e dizer em seguida - "É bartholinho, está criando juízo!!!".
Grande abraço ao Professor Zé Rodinha, pelo qual a matemática era uma arte.
Abraços
Fernando Bartholo