Se nessa Terra alguém deixa gravadas no tempo frases a exprimir época (Inconfidentes,1960) e o espírito circunvagante em território lúdico de estar feliz próprio, demarcado, sem dúvida esse alguém será João (Soares) - filho da Dona Ita, onde também residia a irmã Teresinha. Pois logo abaixo da casa onde morava, havia o espaço centralizado por um antigo poste (posição central) na Av. Alvarenga Peixoto ao cruzar com a rua Marília de Dirceu - .
Pois alguns pontos da cidade ainda tem "dono". Como se ali permanecessem personagens da própria história marcada pelo espírito no tempo . Pois alí, como energia ainda a ressoar continuam paralogismos e enunciados de ordem filosófica "urbi et orbi" sobre a própria razão de ser e alí estar - entre perdidos e achados locais guardados no tempos. Reconhecido naquela época, Joãozinho era um dos poucos personagens da antiga "Colônia" a solenemente carregar no bolso "carteira de motorista" - status social mais cobiçado e raro - algo hoje como "brevê de aviação". Por esse motivo e, também por vibrar com os motores, para mim Joãozinho ainda é o homem do "Alcool Motor". Era sua marca registrada guardada para as conversas da noite sob as luzes do poste central. Hoje, como se vê, a virtuosa idéia era tecnologia primitiva desde então e aqui virtualmente "patenteada" - ad perpetuam rei memorian.
Mas o tempo passou. E joãozinho sempre camarada e amigo da molecada, ficou. Como sua lembrança aqui não podia faltar, pedi ao Fernando, seu filho, uma foto bonita que tivesse desse velho amigo . Pois no retrato, eis de novo Joãozinho na "ativa" - pelo quanto mais gostava de fazer, dionisíaco, nessa foto singular. E a completa o Jeep, o tempo e a circunstância! Ora, em se tratando de João (Soares) - funcionário da EAVM sempre chamado pelo nome completo - se cada fato é surpresa, cada foto também é.
Pois hei-lo como se ainda presente e a resolver os mais diversos problema da humanidade na Terra! Se naquela época alguém de fora precisasse de um guia como virtual "estrangeiro" desejoso de conhecer Inconfidentes, sem nunca se perder ou por a mão em cumbuca, mas sempre a se divertir, não haveria melhor. Acostumado ao improvisar, nunca imaginei o Joãozinho mundo afora: a levar árvores plantadas num Jeep circundado por "bambuzal" florido ! Mas... olho espantado a foto - e o reconheço: compenetrado, só poderia mesmo ser Joãozinho Soares!
De novo reencontro no antigo "cicerone" a necessidade de decifrar confusas mensagens nessa babel histórica que sempre foi Inconfidentes por suas diversas linguagens: como explicar a faixa ostentada no Jeep? Onde o termo "maior", ostensivo, exposto, torna dispensável à compreeensão o arranjo circundante - sempre coisa "menor". Simples: Joãozinho sempre desprezava as coisas menores. Depois, tudo se esclarecia sob as luzes incandescentes junto ao poste central da Avenida. Senão, para desfazer confusões remanescentes, o remédio era seguir pela diagonal, até chegar às imediações do "Bar do Titonho". Para quem não sabe, lugar de Inconfidentes onde também a vida pacata fluia ao avesso das mágoas; porta a dentro, eflúvios sempre benéficos de novo expandiam a fantasia do viver - porta a fora. E Célia Alberti, a sempre lembrada sobrinha do Titonho é quem atendia no balcão com pinga e grozelha ao distinto público cativo do famoso "rabo de galo" - sempre o chic no último da época. E também, discretamente atendia a freguezia escondida no "reservado" - com a distinta cerveja e mortadela. Ah, sim, breve explicação: naquela época todo bar tinha um "reservado" (separava cliente mais "distinto" no antro da "pinguçada" um tanto ralé). Mas Joãozinho sempre era festejado em todas as rodas pelo "bom papo".
Como se vê, era nesse Inconfidentes o lugar onde se tinham antevisões sobre o "pró-alcool".
Pois sou testemunha: essa previsão tecnológica fora enunciada repetidas vezes por Joãozinho na outra calçada frente ao Bar do Titonho - onde se tomava ar fresco enquanto a gente via passar as meninas. Pois ao chegar, junto ao poste, e revisar pontos da própria meditação, ainda dizia o Joãozinho (Soares): "O futuro? O futuro está no Alcool Motor". Para quem não sabe, isso ocorreu em 1959; quando aqui no Brasil, ninguém sequer sonhava com carro movido a alcool. Mas sob as luzes desse poste, dizia-se e repetia-se: - "taí o futuro: Alcool Motor, pode escrever"!
Mas não era só: localmente, a cultura desse insumo agrícola ganhava sempre novas dimensões também graças aos esforços do Joãozinho. Pois naquela época vinham funcionários da capital - certamente para inspecionar desenvolvimentos e avaliar práticas pedagógicas correspondentes na antiga EAVM. E para melhor mover a economia do País, a eles lembrava outras alternativas também já testadas com relativo sucesso depois da invenção da máquina a vapor; ou seja, o próprio uso da madeira (combustivel alternativo) durante a guerra: quando os carros andavam com aquele bujão ("gazogênio") sobre a capota. Pois aqui, pioneiramente se marcava o progresso alternativo da industria automobilística pelo Alcool Motor. E mostrava o potencial da produção local. Ao retonar, todo estrangeiro sabia de cor os versinhos da Pinga Meu Bem.
Ah, sim: nunca vi Joãozinho de mau humor! Um dia que fosse!
Finalmente, outra particularidade: Joãozinho era um notável personagem de Inconfidentes na década de 60, até um dia capitular e finalmente casar com Dna. Lídia - aliás, quem me emprestou outras fotos. Mas antes disso, sou testemunha: tanto na Colônia como em Ouro Fino, era o "solteirão" mais requestado pelas moças casadoiras de então dispostas a circular no trajeto da Avenida - pelo "footing" - desde o Bar do Titonho até o "Mamute" (onde hoje é a papelaria do Adauto). Mas no trajeto era duro na queda. Certamente se precavia sobre maus resultados. As vezes, para se esconder, era forçado a buscar refúgio no "reservado" do Guilherme Stack . Aliás, lugar onde se tomava o melhor vinho. Mas para Joãozinho o coração era apenas um "musculo" que após se machucar, era também capaz de se "recompor" rápido. No mais, para que guardar coisas da vida... ofensa? Mandava esquecer. Dizia: era "mais saudável". Depois, no resto, conselheiro da molecada frisava: "bebida faz mal. Só em último caso". E como tecnologia futurística aplicada, apenas recomendava o uso do "alcool motor". Hoje, para mim é impossível ver carro a alcool sem lembrar desse velho amigo - sempre brincalhão!
sexta-feira, dezembro 15, 2006
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