domingo, dezembro 31, 2006

Gabriel Vilas Boas



Complexo familiar
:
foto e formatura do Bié
(EAVM, 22/12/1958)


O "complexo de família", este seria o tema mais apropriado para as imagens dessa foto, formatura do Prof. Gabriel Vilas Boas na antiga EAVM ao concluir o curso de Mestria Agrícola. Como aluno, contemporâneo, nessa época o Bié era dois anos mais adiantado na Escola do que eu. Tal fato me fez conviver com o Gabriel de um modo singular: primeiro, ele também como aluno ao qual por vezes tinha de obeceder como "lider" eleito. E depois, mais outros dois (anos) já ex-aluno portanto "formado" e, por esse motivo e melhor proveito, levado a trabalhar como funcionário administrativo na secretaria por meu pai, de quem virou o mais fiel escudeiro - e depois sobrevivente aprendiz de feiticeiro, sem mais nada dever a ninguém senão à própria filosofia. Principalmente depois da temeridade, já como funcionário exemplar, de alojar-se em pequeno quarto (espaço reservado à parte dos dormitórios dos alunos: tudo hoje transformado em 5 salas de aulas e outras dependencias nesse então "moderno" pavilhão de janelas amplas, envidraçadas - local reduzido, onde até pouco tempo atrás ficava a biblioteca da EAFI). Pois compartilhava tal aposento com o "filósofo" (esqueço o nome: professor tipo louco-furioso, conhecido pela alcunha de "filósofo" - dizia guardar punhais e revólveres na mala, os quais lá ficavam a "pular" de ódio - assim interrompia aula para esbravejar com algum aluno - enquanto a casa tremia). Pois ficamos todos sem conhecer quais suas artimanhas para assim sobreviver e, nem esse terno branco da formatura precisar lavar de novo para tirar manchas de sangue...

E daí vem outro complexo meu de ordem familiar. Com isso resumido, outro dia demos boas risadas quando recentemente contei essas histórias ao próprio Bié: pois meu pai mesmo sabendo "se" e quando eu ou meus irmãos mentiam ou diziam a verdade, sempre punha "mais fé" na palavra para mim sempre conflituosamente vista como "mais absoluta": a do Bié. Assim, comecei a reconhecer no Bié os meus "absolutos e relativos" circundantes em termos de fé pública, moral estabelecida e razão final - sempre medidos pela palavra abaixo da qual era para ser conferida e acreditada. E olhe, naquele tempo era preciso "ter moral", como se dizia... E no meio da "zalunada" o que mais se falava? Era sobre "quanta" moral o Bié tinha. Lógico, as outras "morais" seriam sempre contrapostas a esse "padrão oficializado". Ou seja, como referência para serem comparadas qualitativamente ou também medidas quantitativamente: se com "mais" moral ou "menos" moral... Mas no fim, depois de tantas tertúlias, todos se reuniam contristados para rezas coletivas, bençãos e orações finais - como era costume. E os pecados ficavam perdoados, ou aliviados. No entanto, enquanto o Bié colhia louros sem maiores complexos, lá em casa, menos afagados, a cinta "cantava" os mais virtuosos corretivos pedagógicos.

E aí, como é que faz? Pois ficamos crescidos em meio às plantões de maior juízo pelo bom Deus jamais esquecidas. Certamente para "sarar" de tantos complexos sepultados pelo esquecimento, teria de devolver alguma palmada pela razão imprecisa e ausência de lembrança havida de minha parte. Outras devoluções, talvez, fiquem por conta do além - para o Gabriel sentir e entender algum puxão pelo pé da cama. Sentia-me um pobre ex-seminarista perdido no meio de tantas virtudes aladas, entre palmas e palmatórias circundantes - sem saber qual delas tinha mais valor.

Problemão. Então sempre ficava aquela dúvida cruel: ué... mas então, quem seriam os arquétipos dos imoralistas na antiga EAVM? Ou só existiriam no meio das oníricas fantasias da juventude transviada em Copacabana - como nos traziam pelo imaginário as longínquas notícias de revistas da época como O Cruzeiro do Rio de Janeiro? Ou estariam nos bailinhos onde em Inconfidentes santa e piedosamente se dançava bolero (Lucho Gatica, Perfume de Gardênia, etc.) de rosto colado - dois pra cá, dois pra lá...?

Mas de todo modo, o Bié era comportado demais. E nem no campo de futebol dava carrinho. Pois virava exemplo em tudo, além de jogar futebol razoavelmente. Principalmente como meia esquerda no 2º quadro e as vezes carregava a bola matada no peito, atravessada entre os beques. Pois vai daí, o Bié impôs sua moral até no futebol, onde virou treinador. E eu, reserva do segundo quadro. Mas essa o Bié não viu. E o Goleiro adversário era o Krikinha. Lembro de marcar gols, um deles memorável: a correr da bola lançada por trás e esperá- la pela sola da chuteira para marcar (Campo da Escola, 1961 - "treino inaugural/Esculacho F.C.").

E claro, tudo isso serviu para também ficar complexado o resto da vida.
Pois meu pai não se cansava de elogiar a correção "desse rapaz", o Bié. Quem, depois, já na qualidade de técnico e preparador tão elogiado por meu pai depois que o time da EAVM se tornara invencível na região, achava de enfileirar os jogadores antes do início das partidas para dar uma colherada de "Karo" entendida como a "nitroglicerina" indispensável ao esforço a ser feito no campo depois; enquanto eu ficava todo cheio de nojo daquela colher coletiva, toda babada que me chegava. Principalmente quando eu ficava na ponta do outro lado da fileira por onde ele autoritariamente começava. E ele, acho que por capricho inconsciente ou maldosa aposta estatística ou outra fatalidade, sempre começava pelo lado oposto onde eu estava. Razão pela qual eu que sempre fui razoável em matemática e cálculos de chance estatística, resolvi virar centro avante- para ficar no meio. Assim economizava metade das babas, enquanto fechava os olhos e imaginava lamber outras delícias do mundo. Mas, como jogar futebol era importante e gostava, conformado com essa meia desgraça tomava por "disciplina": dever de obediência. Espremido entre o autoritarismo do meu pai e, o autoritarismo simultâneo do Bié. Credo!!! Arre... Arre!!!

Enquanto pra nós, os virtuais "play-boys" da época, também mecânicos na oficina da Escola e depois explendores do sol a ventos largados, os filhos do todo poderoso diretor... ninguém esticava tapete vermelho de meio metro até a encruzilhada!

Essa foto mostra o Bié, como assim o chamávamos, ladeado à esquerda por sua mãe. Enquanto à direita minha mãe está ladeada pela Sra. Renato Davini (Maria de Lourdes), outro também saudoso professor dessa escola e, outra senhora daqui de Inconfidentes cujo nome agora não me ocorre (peço socorro a quem possa ajudar). Muito delicadamente, o Bié virou essa fotografia pelo verso e escreveu a dedicatória à minha mãe a qual deixo de reproduzir, dada a surpresa. Era a alma ardorosa "desse rapaz" como assim dizia. O rigor formal sempre revelado e a arquipoética singeleza a espelhar o sonho do futuro dessa figura singular até pela própria psique formadora na história de Inconfidentes, vindo de Itumirim.

Poois para mim a foto revigora aluno da EAVM, reconhecido no depois semelhante diretor da EAFI: condutor da moral espelhada em códigos de disciplina firmados por meu pai. Aliás, sobre questões de "disciplina" em termos de moral libertária implantada, porém simultaneamente repressiva e hedada do antigo patronato agrícola, o Bié será talvez a melhor testemunha da histórica EAFI a partir do contraditório - visto pelo esforço libertário de um lado aplicado, onde se quebravam verdadeiros grilhões educacionais na época. De certo modo, tudo ainda vivenciado na alma e na pele pelo próprio Bié como antigo aluno. Pois vestíamos botina e gandola caqui (numerada), destinados a viver em regime de internato fechado. Pois em Inconfidentes, "zaluno" era quase pária social execrado (claro, não pelas mocinhas). E o Bié pode testemunhar: naquela época, antes da permissão formal para aluno maior de 18 anos se tornar responsável por si e poder fumar cigarro (Continental sem filtro) no páteo, a "zalunada" praticamente voava atrás da guimba para fumar escondido. E também, antes disso, não elegíamos "líderes" entre os próprios alunos - tão mais livres, sinceros e responsáveis passamos a ser depois naquela época a partir daí. Desde valores e pedagogia revisada pela crítica ao antigo sistema. Mas com essa mudança, sob delegada maior responsabilidade pessoal dada ao próprio aluno como treinamento para a vida, segundo pretendia meu pai, muitas vezes foi eleito o próprio Bié: aliás, a bem da verdade, quem nunca fumou. Pois era exemplo maior também por mais essa virtude histórica da humanidade. Ou no recreio da molecada tenha jogado pelada no páteo histórico com bola de meia. Principalmente depois de virar funcionário na secretaria da escola.

Pois só para lembrar quanto de vivências o Bié ainda carregou pelas costas e pode testemunhar: pois nessa psicologia(coletiva) transmudada, substituia-se, enfim, a "pedagogia" da vara de marmelo escolar associada à figura do "guarda de aluno". Menos formalista, embora quase tão rigososo quanto, substituia-se o psiquismo (rigoroso) "guarda" de aluno destinado a reprimir e anotar "partes" ao diretor (denúncias) com "números" pelos quais identificava o aluno "indisciplinado" ao invés do nome (aluno não tinha nome). E ao qual, via de regra se acrescia o qualificativo policial de "mau elemento" - pois! Pois dá para imaginar a transformação desse pequeno mundo após essa noção pela responsabilidade auto condutora dos próprios alunos ser transferida e acumulada em "poder" formal e disciplinar pelo lider eleito para cada mês. E a haver "juri" popular entre a molecada para dirimir dúvidas e aplicar penalidade.

Pois hoje olho a foto da formatura do Bié, todo bonito de terno branco. E hoje o reconheço, de cabelos algo esbranquiçados pelo fim da metamorfose: de aluno da EAVM de ontem para o ex-diretor da EAFI de hoje entre marcas pelos rostos, maneiras de ser, sorrir e abrir o sobrolho - se contrariado ou não em atitude de expectativa. São o mesmo Bié. No fim, para mim, tudo sem surpresas vistas no retrato desse arranjado meio irmão que tive pela vida entre complexos também pela origem desde Itumirim: pois antes de voltar, eu aqui havia nascido. E teria de lidar pelo resto com mais esse "estrangeiro" que aqui ficou, viu e venceu. Ufa!!!

Pouca coisa? Tudo guardado numa velha foto com motivações familiares e reconhecíveis pelo atavismo das coisas em comum. Pois para mim, até aí vale publicamente ser também comunista assumido pelas demais coisas da vida.

Pois hoje crescidos, após vencer suas lutas e peregrinar por reparos, o resultado está aí. E se mais repararmos na foto, chegamos ao ponto onde por fim se superam complexos em causas sob bençãos do pai escolar entre mães reunidas. E como se fosse tradução da dedicatória oculta, onde a "luta fraca não é para homens fortes" - frase pedagógica herdada desde então, hoje festeja o Bié valores do debate aberto na esfera pública: local onde além de se por em fuga portadores de razões menores, somos também capazes de reparar erros, vencer fraquezas (próprias e alheias), remover obstáculos, falsidades e, patologias educacionais circundantes e circunvagantes - para de novo construir e transcender. E até para transformarmos a antiga EAVM em futura universidade federal especializada, crítica e prospectiva, não é mesmo? Mas isso já é projeto a se retomar nascido por proposta do próprio Bié agora em 1994 - coisa que por certo haveremos de dedicar: "Ao futuro, com carinho" (aqui aproveito essa frase inicial da minha irmã Lúcia aplicada em um de seus trabalhos. Artigo intitulado "Novo Caminho" - como matéria pedagógica incorporada - Clicar aqui para ver)

Pois sob o peso dessa herança comum, reconhecidos em nossos velhos pais recompostos em seus lugares, temos finalmente o Bié: visto na foto cercado de mães por todos os lados.

Daí meu complexo com o Bié. Mas isso ja não é novidade. Depois conto o resto.

domingo, dezembro 17, 2006

José Oliveira de Carvalho


O famoso mestre "" Rodinha. Dispensável dizer, meu venerável professor de matemática de quem aprendi os primeiros teoremas da geometria... para depois nunca mais esquecer Pitágoras, Thales....
Também a "arrumar" coisas até então inconcebíveis como equações de 1º Grau - sob álgebras misteriosas. Abstrações forçadas, postas pela frente como fronteiras de mato fechado a desbravar, além de esgrimir imaginação atrás da razão suficiente. E a percorrer razões inversas até sentir, satisfeito, a validade da "demonstração por absurdo". Algo como purgar comodismos sem fugir de questões a envolver indecifráveis "algorítmos", quase antigas artes de cabala. Jamais professor, confesso, foi-me dado lembrar por muito tempo o "formato funcional" pelo imediato do quanto como expediente se fazia para extrair "raiz" quadrada... Arre!!!

Ah, professor! Sem calculadora... como fazem hoje nas escolas? A meninada já nasce sabendo? Ah, sim... depois ficou mais fácil extrair raiz quadrada: pois era mais fácil entender razões (propriedade) das somas logarítmicas representarem multiplicações - no campo dos números reais. Mas naquele tempo a gente nem sabia usar régua de cálculo!

Ainda o encontro por vezes aos domingos quando almoça no Nikolas, em Ouro Fino.
O impulso do abraço à mesa onde estiver é irresistível.

Ah, sim! Porque "Zé" Rodinha?
Bem, existem duas versões. Ou até mais outras duas para completar as primeiras pela análise das fontes históricas.

A primeira, mais simplista e imediata, é pela suposta quantidade de "zeros" que a molecada tirava nas provas de matemática. Zeros, lascados pelo professor "sem dó e nem piedade", como fato generalizado, amplamente constatado e tornado lenda pela "zalunada". Até para obrigar a meninada a estudar mais...

Mas havia ainda uma segunda. Essa, devia-se à sua assinatura. Tanto a que reconhecia firmas no Cartório onde além de professor também era o tabelião, como nas rubricas que colocava nas provas ao lado da nota - para a gente conferir. A assinatura corrente começava e ia muito bem enquanto estava no "José". Depois, quando passava para o Oliveira, aí é que se dava o enrosco. Pareceia que o Prof. Zé rodinha queria pegar o embalo para continuar a escrever o "liveira". Aí, ficava com a caneta rodando em sentido anti-horário um tempão dando volta para escrever o "O" em maiúscula. E ficava aquele monte de "O" empilhado um em cima do outro e andando um pouquinho mais pra frente, até que já com embalo suficiente pegava no breu e emendava o "liveira escrito assim de carreirinha. E quanto ao Carvalho, talvez já um tanto cansado escrevia direto sem "floreio". Então essa segunda versão, psicológicamente mais plausível talvez fosse a mais razoável das interpretações para a origem do apelido.

Mas sempre há a terceira hipótese, que na verdade é uma junção das duas, posto que ao lado das notas, a rubrica era o "O" do "Oliveira" que a gente sempre confundia com a própria nota...

Daí a quarta, é que não tinha jeito de passar senão contasse direito quantas foras as "voltas" que o professor dava na rubrica: para entender quanto de verdade valeria a nota - confirmada pelo número constante de voltas. E diziam que não adiantava "somar" - pois tudo seria soma de "zero"! Mas ao melhor se conhecer o Prof. via-se logo a injustiça: pois apelido em escola sempre aparece por por alguma secreta maldade de aluno. Especialmente quando tira nota baixa.

Pois é, professor. Lembro muito bem do quanto também "penei", para extrair uma raiz quadrada: na lousa. O temível "exame oral", costume escolar daquela época. Claro, fiquei na tentativa - sem ir além de colocar o primeiro número no radicando e fazer o "rabisco" correspondente à "fase" eletrotécnica incial - tão eletrocutado fiquei - até depois ser recomposto pela surra moral por "refugar" nessa questão.

Ah, também tem o episódio da cura quanto à "colar". Pois haveria uma prova e apesar de estudar, não conseguia entender um teorema geométrico. Pois foi a minha única tentativa de cola: sentei sobre o livro aberto na página onde estava tal assunto. Era uma carteira na primeira fila onde sentava. Claro, não deu outra. O assunto não caiu e, eu fiquei sobre a inutiludade do livro (aberto) sobre o qual sentara e... tão vermelho estava que foi fácil ao professor perceber a situação. Mandou que levantasse. Não levantei. Insistiu. Não levantei. Outra vez... e nada.
Continuei sentado a resolver as questões que sabia. E o Prof. Zé Rodinha parou de circular: ficou de pé, ao lado, o restante da prova. Finda a prova, entreguei a folha, levantei. Ele recolheu o livro na página aberta. Viu o que era. Talvez, até pela desnecessidade, nunca vi alguém abrir um sorriso com tanta expressão piedosa... Menos incisivo seria um "esporro". Pois olha, na falta, sentia imensa vergonha íntima. Poucas vezes passei tanta na vida - coisa de seminarista incontinente em estado de pureza traída após achar-se o último dos homens da Terra a fugir do que era. Talvez o prisioneiro chinez humilhado em praça pública por outro motivo fosse menos doloso.

Mas... primeira e ultima, o efeito terapêutico foi imediato, devastador e permanente. Foi insuportável a ironia do mestre. Comprimiu a "mola" da matéria ao indispensável. Sendo resto a energia. A resiliência. E pela energia contrária despertada, a expansão restauradora da geometria e moral comprimida. E parece, para provar tudo isso em gráficos de "tensão x deformação" para depois traduzir isso pelo campo dos esforços sobre os tecidos sociais pelas razões economicas depois ainda agregadas ainda terminei virando professor de Resistência dos Materiais. Pois o Prof. José Rodinha foi "avô" alunos da PUC e da UNICAMP em Campinas, al[em de outros, em Barretos para entendimento de assuntos dessa natureza derivadas do rigor matemático e pelas exigências da estatística. Para azar dos meus alunos, também ficava ao lado de quem fizera meu antigo papel. E para minha grata alegria, até hoje poder dizer isso: já fui um "Zé" Rodinha como modelo aplicado. Nada como por acaso, mas até como premonição antiga em observação de avô firmada no tempo. Energia que jamais aceitou ou aceitaria ser comprimida sem encontrar resposta a altura. E devo agradecer ao Pro. Zé Rodinha isso: nunca mais consegui colar.

Uma homenagem ao mestre

Ah, sim. Talvez por isso fiz depois engenharia. E hoje, ao professor- quem primeiro me ensinou a ler e interpretar gráficos matemáticos - faço a homenagem pelo rigor matemático adquirido e, pela insersão em ética aplicada. Pois já na fase profissional e madura da vida, além de não aceitar e ver todos fugirem ao confronto após denunciar superfaturamento em obra pública de minha autoria (referente à ampliação do sistema de abastecimento de água em campinas - registro em cartório pela "honra do diploma" em 12/07/1989 - clicar aqui para ver) , também virei calculista estrutural a usar o coeficiente de segurança mais baixo (versão mais ousada da NB1-1962). Pois meus prédios estão de pé. E também por isso durmo sossegado.
E tenho uma certeza: o Prof. "Zé" Rodinha tem tudo a ver com isso.

Fica aqui minha homenagem. E palavra final. Apresentados os gráficos na Justiça, fugiram todos. E poderosos denunciados calaram a boca forçados. Hoje na moldura, são troféus. Enfeitam paredes em minha casa. E mais valeriam pela verdade matemática conferida: caso o antigo aluno, agora feita a lição viesse pedir o visto e a conferência. E por fim, não esquecer de assinar! Com o "O" junto com a nota final - sempre esperada.

Ah, sim! Nesse tempo, meu pai era diretor.
Não havia e nem era tolerada falta de respeito entre aluno, professor e funcionário.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

João Soares

Se nessa Terra alguém deixa gravadas no tempo frases a exprimir época (Inconfidentes,1960) e o espírito circunvagante em território lúdico de estar feliz próprio, demarcado, sem dúvida esse alguém será João (Soares) - filho da Dona Ita, onde também residia a irmã Teresinha. Pois logo abaixo da casa onde morava, havia o espaço centralizado por um antigo poste (posição central) na Av. Alvarenga Peixoto ao cruzar com a rua Marília de Dirceu - .

Pois alguns pontos da cidade ainda tem "dono". Como se ali permanecessem personagens da própria história marcada pelo espírito no tempo . Pois alí, como energia ainda a ressoar continuam paralogismos e enunciados de ordem filosófica "urbi et orbi" sobre a própria razão de ser e alí estar - entre perdidos e achados locais guardados no tempos. Reconhecido naquela época, Joãozinho era um dos poucos personagens da antiga "Colônia" a solenemente carregar no bolso "carteira de motorista" - status social mais cobiçado e raro - algo hoje como "brevê de aviação". Por esse motivo e, também por vibrar com os motores, para mim Joãozinho ainda é o homem do "Alcool Motor". Era sua marca registrada guardada para as conversas da noite sob as luzes do poste central. Hoje, como se vê, a virtuosa idéia era tecnologia primitiva desde então e aqui virtualmente "patenteada" - ad perpetuam rei memorian.

Mas o tempo passou. E joãozinho sempre camarada e amigo da molecada, ficou. Como sua lembrança aqui não podia faltar, pedi ao Fernando, seu filho, uma foto bonita que tivesse desse velho amigo . Pois no retrato, eis de novo Joãozinho na "ativa" - pelo quanto mais gostava de fazer, dionisíaco, nessa foto singular. E a completa o Jeep, o tempo e a circunstância! Ora, em se tratando de João (Soares) - funcionário da EAVM sempre chamado pelo nome completo - se cada fato é surpresa, cada foto também é.

Pois hei-lo como se ainda presente e a resolver os mais diversos problema da humanidade na Terra! Se naquela época alguém de fora precisasse de um guia como virtual "estrangeiro" desejoso de conhecer Inconfidentes, sem nunca se perder ou por a mão em cumbuca, mas sempre a se divertir, não haveria melhor. Acostumado ao improvisar, nunca imaginei o Joãozinho mundo afora: a levar árvores plantadas num Jeep circundado por "bambuzal" florido ! Mas... olho espantado a foto - e o reconheço: compenetrado, só poderia mesmo ser Joãozinho Soares!

De novo reencontro no antigo "cicerone" a necessidade de decifrar confusas mensagens nessa babel histórica que sempre foi Inconfidentes por suas diversas linguagens: como explicar a faixa ostentada no Jeep? Onde o termo "maior", ostensivo, exposto, torna dispensável à compreeensão o arranjo circundante - sempre coisa "menor". Simples: Joãozinho sempre desprezava as coisas menores. Depois, tudo se esclarecia sob as luzes incandescentes junto ao poste central da Avenida. Senão, para desfazer confusões remanescentes, o remédio era seguir pela diagonal, até chegar às imediações do "Bar do Titonho". Para quem não sabe, lugar de Inconfidentes onde também a vida pacata fluia ao avesso das mágoas; porta a dentro, eflúvios sempre benéficos de novo expandiam a fantasia do viver - porta a fora. E Célia Alberti, a sempre lembrada sobrinha do Titonho é quem atendia no balcão com pinga e grozelha ao distinto público cativo do famoso "rabo de galo" - sempre o chic no último da época. E também, discretamente atendia a freguezia escondida no "reservado" - com a distinta cerveja e mortadela. Ah, sim, breve explicação: naquela época todo bar tinha um "reservado" (separava cliente mais "distinto" no antro da "pinguçada" um tanto ralé). Mas Joãozinho sempre era festejado em todas as rodas pelo "bom papo".

Como se vê, era nesse Inconfidentes o lugar onde se tinham antevisões sobre o "pró-alcool".
Pois sou testemunha: essa previsão tecnológica fora enunciada repetidas vezes por Joãozinho na outra calçada frente ao Bar do Titonho - onde se tomava ar fresco enquanto a gente via passar as meninas. Pois ao chegar, junto ao poste, e revisar pontos da própria meditação, ainda dizia o Joãozinho (Soares): "O futuro? O futuro está no Alcool Motor". Para quem não sabe, isso ocorreu em 1959; quando aqui no Brasil, ninguém sequer sonhava com carro movido a alcool. Mas sob as luzes desse poste, dizia-se e repetia-se: - "taí o futuro: Alcool Motor, pode escrever"!

Mas não era só: localmente, a cultura desse insumo agrícola ganhava sempre novas dimensões também graças aos esforços do Joãozinho. Pois naquela época vinham funcionários da capital - certamente para inspecionar desenvolvimentos e avaliar práticas pedagógicas correspondentes na antiga EAVM. E para melhor mover a economia do País, a eles lembrava outras alternativas também já testadas com relativo sucesso depois da invenção da máquina a vapor; ou seja, o próprio uso da madeira (combustivel alternativo) durante a guerra: quando os carros andavam com aquele bujão ("gazogênio") sobre a capota. Pois aqui, pioneiramente se marcava o progresso alternativo da industria automobilística pelo Alcool Motor. E mostrava o potencial da produção local. Ao retonar, todo estrangeiro sabia de cor os versinhos da Pinga Meu Bem.

Ah, sim: nunca vi Joãozinho de mau humor! Um dia que fosse!

Finalmente, outra particularidade: Joãozinho era um notável personagem de Inconfidentes na década de 60, até um dia capitular e finalmente casar com Dna. Lídia - aliás, quem me emprestou outras fotos. Mas antes disso, sou testemunha: tanto na Colônia como em Ouro Fino, era o "solteirão" mais requestado pelas moças casadoiras de então dispostas a circular no trajeto da Avenida - pelo "footing" - desde o Bar do Titonho até o "Mamute" (onde hoje é a papelaria do Adauto). Mas no trajeto era duro na queda. Certamente se precavia sobre maus resultados. As vezes, para se esconder, era forçado a buscar refúgio no "reservado" do Guilherme Stack . Aliás, lugar onde se tomava o melhor vinho. Mas para Joãozinho o coração era apenas um "musculo" que após se machucar, era também capaz de se "recompor" rápido. No mais, para que guardar coisas da vida... ofensa? Mandava esquecer. Dizia: era "mais saudável". Depois, no resto, conselheiro da molecada frisava: "bebida faz mal. Só em último caso". E como tecnologia futurística aplicada, apenas recomendava o uso do "alcool motor". Hoje, para mim é impossível ver carro a alcool sem lembrar desse velho amigo - sempre brincalhão!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Amador Ferreira


O saudoso Dr. Amador, como era costume ser chamado, foi vice diretor na antiga EAVM - Escola Agrícola Visconde de Mauá, onde também era professor de Indústria Agrícola. E professor de Agricultura. Sinceramente, não sei como o Dr. Amador arranjava tanta paciência para aturar as bobagens da gente naquela época.

Vez por outra, costumávamos interromper as aulas - sempre com alguma provocação para ver o Dr. Amador contar alguma piada. Pronto! Acabava a aula. O problema, é que o professor era uma alma pura, isenta de maldade e, levava tudo na boa fé. E sempre de bom humor, nem percebia quando a gente malvadamente aproveitava alguma piada meia "sem sal" para inventar uma história um tanto sem pé e nem cabeça para depois pedir opinião sobre o "assunto".
Daí, pelas razões paralelas o tempo escorria...

Mas depois ele percebia. Aí fechava um pouco a cara.
Fazia um ar de bravo. Mas mesmo bronqueado encerrava o assunto - sem contudo perder a fala sempre mansa : "uai... o que foi que voces não voces não entenderam? Foi a aula? Acham que eu sou bobo... é? Brincadeira tem hora, viu?"

O que mais me arrependo até hoje, é não ter guardado os velhos cadernos de escola. Pois o Dr. Amador costumava ditar a matéria para a gente copiar no caderno. E depois, nas provas, não havia professor mais generoso; era só lembrar de algumas "frases" mais famosas e pronto: lá vinha 8, daí pra cima! Disso tudo, eu nunca esqueci quando, um dia, numa aula sobre máquinas e equipamentos diferenciava-se o arado de tração animal, considerado em duas categorias.... Assim, o "arado de disco" além do disco propriamente dito para revirar a terra, tinha ainda uma "boléia" para alguém, se quisesse, ir sentado e a sacolejar sobre o próprio arado. Já o de "aiveca", reversível ou não, quando visto por trás, tinha as duas alças que "pareciam asas de uma gaivota em preguiçoso vôo"...

Mas a paciência do Dr. amador parecia mesmo ser infinita. As vezes para provocar, combinávamos assistir as aulas de terno e gravata... e aí, surpreso ele exclamava: uai... vocês vão a um casamento? E mandava tomar cuidado com a desnatadeira para não deixar respingar... Pode? Haja bondade e paciência!

Porém, o Dr. Amador, gostava de dirigir
e, tentava "praticar" a para tirar carteira de motorista.
Mas terminou por desistir, pois não tinha mesmo jeito. A maior vítima era a velha "perua"
"Chevrolet-1948", uma curiosa estrutura de madeira sobre chassis de caminhonete. E aí residia o perigo, pois o problema maior era distinguir em qual ordem ficavam os pedais do freio, embreagem e acelerador.

Certa vez, numa primeira tentativa, ao chegar à encruzilhada ("trevo" da MG 290), começou a "desterçar" (virar o volante) para a esquerda, pois queria ir para Ouro Fino; e conforme explicava, se continuasse em frente iria para Borda de Mata. Mas... não teve jeito. Virou o volante antes do tempo: assim a frente do carro desceu pela lateral do aterro e "tombou devagarinho"... fora da pista - como se o a parte do teto
ainda insistisse em "ir" para Borda.

Claro, era difícil deixar de acreditar em milagre quando o Dr. Amador dirigia.
Mas milagre acontecia, sim senhor. O mais famoso deles, foi quando numa outra ocasião voltava de Ouro Fino. Pilotava uma velha caminhonete Studebaker-47 cujo "folga"
do volante dava meia volta na diração para cada lado. Mas isso não era problema para quem já estava acostumado. Porém, esse carro tinha mais um problema: escapava a marcha (2ª) na descida ou quando se tirava o pé do acelerador. Pois não é que nesse dia o Dr. Amador praticamente "nasceu de novo"? Pois foi justamente nessa tentativa de voltar para Inconfidentes, quando "desceu" desembestado a ladeira da famosa "curva da morte" nessa virtual "banguela"!

Ora! Ninguém duvide: milagre existe. E quem mais se admirava com isso era o Joãozinho (Soares) o instrutor sobrevivente de então. Pois esse não cansava de contar e recontar. Acontece que a "curva da morte" naquela época tinha um pequeno "bosque" de eucaliptos - o qual, justamente, ficava pelo lado da ribanceira - para fora da curva.
Pois sem conseguir fazer a curva, a caminhonete passou reta e a "voar" pelo meio das árvores. Principalmente, entre dois eucaliptos - cuja medida era de apenas alguns milimetros a mais da largura do carro. Finalmente, o milagre: tudo foi parar lá em baixo com o carro inteiro e ninguém se machucou!

Tempos depois, refeito do susto o Dr. Amador até tripudiava: "Barbeiragem?
Nada! Foi só questão de pontaria"...

Pois ora veja, quanta coisa mudou! Hoje até o "trajeto" fechado da curva ficou mais suave.
E mais recentemente, também cortaram os eucaliptos! Mas depois disso, bondosamente o saudoso Dr. amador parou de insistir na "arte de dirigir" e, todos aqui na "Colônia" ficaram muito felizes. E tornou-se prazer para o hoje também saudoso Chicão, o velho motorista que conhecia a "manha" de todos os carros pegar o boné e levar o Dr. Amador - onde precisasse!
Salve, salve, Dr. Amador! A gente tripudiava porque sabíamos: era um grande coração.
E certamente como agora, de lá no céu ainda perdoa - como perdoava.